Vikings – Review da 6.ª Temporada (Parte 2)
| 18 Mar, 2021

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[Contém spoilers]

Temporada: 6 (Parte 2)

Número de episódios: 10

Depois de seis atribuladas temporadas, muitos altos, mas também muitos baixos, de histórias e personagens que prenderam ao ecrã e fizeram os fãs não desistir da série, Vikings chega ao fim numa curva descendente e numa nota pouco marcante. Para uma série que teve um começo tão forte e que a meio perdeu o seu maior trunfo – o protagonista Ragnar Lothrbrok (Travis Fimmel) -, mas que conseguiu a algum custo manter a qualidade durante uns tempos, viu o fim chegar de forma quase dececionante.

No final da primeira parte desta 6.ª temporada de Vikings tinha ficado pouco claro se a morte tinha realmente chegado para a única personagem do elenco original da série que restava (que o público soubesse até então) – Björn (Alexander Ludwig). Para todos e todas que chegaram até à reta final da série provavelmente quiseram acreditar que não, uma vez que ainda faltavam mais dez episódios até ao final, e o que seria da série sem o seu protagonista, uma vez mais? De facto não morreu logo, mas o tempo que ainda esteve vivo não foi suficiente e a despedida acabou por ser demasiado abrupta.

O objetivo de Björn avançar pela linha da frente sem qualquer tipo de proteção e morrer então trespassado por flechas não ficou percetível no seu todo. Claro que a cena proporcionou uma beleza visual enorme e percebe-se que o exército dos Rus tenha ficado desconcertado, pensando tratar-se de algum tipo de assombração, mas no final de contas, em termos lógicos, não preenche todos os requisitos.

E se a cena da sua morte foi anticlimática, já não se pode dizer o mesmo da da despedida. Havia espaço para um ritual mais prolongado, como aconteceu no episódio do funeral de Lagertha, mas ainda assim a homenagem que lhe foi feita proporcionou um sentimento de finalização à personagem. Precoce, é certo, mas permitiu o adeus adeus. Curiosamente, a restante temporada continuou o seu rumo descendente sem se sentir grande falta de Björn. Bom ou mau sinal? É difícil responder. Poderiam os restantes nove episódios serem melhores se o Lothbrok primogénito estivesse vivo?

Outra morte cuja função no plot não se percebeu foi a de Gunhild. Tudo indicava que ela seria a sucessora de Björn na liderança de Kattegat e que a sua história nos últimos episódios seria em tudo relevante. Ao invés, o guião levou-a a um suicídio repentino, dando a entender que esta mulher guerreira e com um fogo inapagável nela preferiu simplesmente entrar em Valhalla e juntar-se ao marido no salão dos deuses do que continuar a lutar pelo legado que lhe foi deixado.

E se o tema são storylines sem nexo, há mais uma a juntar à lista. O regresso de Harald Finehair era previsível – a sua morte era demasiado boa para ser verdade -, mas uma vez mais Vikings conseguiu não encontrar um caminho interessante para a personagem. É compreensível que tivessem de lhe dar algum tipo de final para não deixar essa ponta solta, mas se nos dez episódios anteriores toda a lengalenga de Finehair e do Conde Olaf já não fez sentido, este seu retorno e disputa por Kattegat mais o triângulo amoroso forçado com Gunhild e Ingrid foi de uma incompreensão total e aborrecimento infernal. Qual foi o propósito de o coroarem Rei da Noruega? Nunca deram um real uso a esse estatuto da personagem. Ainda assim, há que admitir que a cena da sua morte foi bem conseguida e trouxe uma certa nostalgia com o breve aparecimento do irmão Halfdan.

E, por fim, o desfecho dos três irmãos Lothbrok. Hvitersk e Ivar estiveram intrinsecamente ligados nesta fase final. O rumo de Hvisterk estava há muito perdido, mas havia alguma esperança que a sua desintoxicação trouxesse lucidez. Tinha sido dado a entender que este planeava alguma espécie de vingança contra Ivar, mas parece que nenhuma destas coisas trouxe redenção à presença da personagem nos últimos tempos. Os argumentistas parecem ter-se esquecido de todo o bad blood entre Hvitersk e Ivar e foi como se nada tivesse acontecido antes de o primeiro chegar a Kiev. Hvitersk consegue finalmente algum mérito nas últimas aparições, já em Inglaterra, quando aceita converter-se ao cristianismo, à semelhança do que o seu pai fizera no passado.

Quanto a Ivar, a personagem conseguiu ter um grande character development e surpreendeu pela positiva, o que não implica que não tenha havido um sentimento de desconexão deste Ivar para aquele que tinha vindo a ser apresentado. Também todo o seu plano com Dir resultou em nada concreto para si. É certo que o pequeno Igor acabou no trono, mas e tudo aquilo por que Ivar supostamente lutou? Ficou perdido algures entre a Inglaterra e a Noruega. A sua jornada culminou numa morte visualmente bela, mas em termos de guião muito fraca. Morreu ali e daquela forma simplesmente porque dava jeito. Vikings prova mais uma vez que, logicamente, não é boa a dar mortes às personagens. Contudo, quem sabe se no spin-off da série não veremos a descendência de Ivar? Também toda esta história com a sósia de Freydis, a russa Katia (Alicia Agneson), teve um desfecho totalmente sem sabor.

Já Ubbe, que até então tivera um protagonismo merecido, perdeu-se por completo depois de sair Kattegat. Talvez a Islândia tenha um efeito adverso nas personagens e assim que pisam aquele território gelado mudam os seus rumos. Por falar em Islândia, este local revelou-se uma desilusão, quando, à partida, tinha tudo para ser o pano de fundo para grandes histórias. Apenas quando Floki lá chegou teve algum interesse que rapidamente se desvaneceu. Também Ubbe foi e veio e tudo continuou igual, menos a sua storyline interessante. Mais de metade do seu screen time nestes dez episódios da última temporada de Vikings foram passados num barco à beira da morte. O que impõe uma questão: porquê? Não havia ideias para mais história e tiveram de gastar o tempo de alguma forma?

Claro que o culminar das suas navegações resultou naquilo por que todos os fãs esperavam. Lá no fundo, havia a esperança de que Floki não tinha morrido naquela gruta na Islândia e não morreu mesmo. Aleluia! Alguma coisa bem feita nesta temporada! Esta revelação foi muito bem conseguida ao ser entrelaçada com a introdução dos nativos norte-americanos. A forma subtil como o guião deu a entender que alguém conhecedor da língua utilizada pelos vikings tinha ensinado aos nativos o idioma deu um alento ao coração que não dá bem para explicar. Foi aquele sentimento misto entre querer ter esperança e não deixar as expectativas subir demasiado. Será, sem dúvida, dos melhores momentos desta segunda parte da temporada.

Alcança-se o final com uma certa nostalgia pelos paralelismos criados entre os finais dos irmãos Lothbrok e a vida que Ragnar viveu. Björn era o seu lado mulherengo e guerreiro, Hvitserk a sua faceta adita, Ivar o visionário e conquistador, e Ubbe o explorador. Uma simbiose bonita, mas que não colmata todas as falhas da temporada. Chegamos ao fim com o tal sentimento de deceção. O que começou como uma das melhores séries da atualidade, acabou como só mais uma, cheia de incoerências e com histórias desinteressantes. Esperava-se e pedia-se mais deste final que, embora simbólico e com uma aura de dever cumprido, não vai ficar marcado na memória. Vikings almejou fazer algo grandioso, mas perdeu-se pelo caminho e termina sem esplendor.

Personagem de Destaque:
Ivar, the Boneless (Alex Høgh Andersen) – Surpreendentemente (ou não), Ivar foi a personagem que mais relevância e interesse teve. Ainda que a sua estadia em Kiev tenha resultado em nada concretamente, a sua ida à Inglaterra proporcionou mais um belo desenrolar de batalha.

Melhor Episódio:
Episódio 20 – The Last Act – É este o culminar de tudo. O culminar das histórias dos grandes irmãos Lothbrok e de algumas personagens que os acompanharam nas duas aventuras. É o adeus a Kattegat, à Noruega, à Inglaterra e ao novo território alcançado. Um adeus agridoce, mas que não se ficará por aqui com a chegada do spin-off.

Beatriz Caetano

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