Euphoria – Review do Episódio Especial (Parte 2)
| 28 Jan, 2021

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[Contém spoilers]

Já se encontra disponível na HBO Portugal o segundo episódio especial da série Euphoria, F*ck Anyone Who’s Not a Sea Blob, sendo que o primeiro, Trouble Don’t Last Always, se focou mais em Rue (Zendaya), enquanto este se foca em Jules (Hunter Schafer). Inclusive, estes dois episódios especiais são considerados também como sendo Parte 1: Rue e Parte 2: Jules e fazem ligação entre a 1.ª temporada e a segunda. Neste episódio, mais especificamente, acompanhamos Jules durante uma sessão de terapia, no dia de Natal, em que ela reflete sobre os acontecimentos do último ano, especialmente os que envolvem Rue e até mesmo Nate.

Ainda que tenha gostado um pouco mais do primeiro episódio, particularmente da dinâmica entre Ali (Colman Domingo) e Rue e da forma como os assuntos foram abordados, sinto que F*ck Anyone Who’s Not a Sea Blob era necessário não só para conseguirmos entender melhor o lado de Jules, como também ficar a conhecê-la melhor. A verdade é que tanto na 1.ª temporada de Euphoria como no primeiro episódio especial só vimos o ponto de vista de Rue e o quanto os acontecimentos retratados a afetaram, o que pode, de certa forma, ter enviesado a nossa perceção quanto às situações, especialmente as que envolviam Jules. Este episódio veio mostrar muito bem isso, porque as atitudes de Jules, principalmente a de ter abandonado Rue na estação de comboios, têm uma razão de ser, razão essa que desconhecíamos até F*ck Anyone Who’s Not a Sea Blob.

Apesar da dinâmica entre Jules e a terapeuta não ter sido tão boa como a de Ali e Rue, sendo que mais parecia um monólogo do que um diálogo, eu entendo o porquê disso. O certo é que o conhecimento que temos sobre Rue e a sua história não é o mesmo que temos sobre Jules, daí a necessidade de se focaram mais em contar a história do ponto de vista de Jules do que debater temas específicos como fizeram em Trouble Don’t Last Always. Ou seja, na primeira parte focaram-se mais em abordar e debater temas específicos, uma vez que já conhecíamos a história e o ponto de vista de Rue, enquanto nesta segunda parte se focaram mais em contar a história da perspetiva de Jules, uma vez que não a conhecíamos tão bem. Também tocaram em temas importantes, é certo, contudo não os debateram. Tanto é que a terapeuta só incita Jules a explicar melhor o que está a querer dizer ou o que está a sentir ou sentiu, mas pouco ou nada se alonga sobre o que ela está a dizer. Eu entendo isso, porque se fizessem as duas coisas, ou seja, contar e debater, um episódio de 50 minutos não era suficiente; no entanto, eu senti um pouco a falta disso.

Porém, adorei conhecer mais a Jules, que já tinha mostrado ser uma personagem complexa, mas que neste episódio conseguiu demonstrar isso ainda mais. Já para não falar da atuação brilhante de Hunter Schafer, que se não tinha chamado a atenção até agora, com este episódio com certeza o fez!. Foi fascinante ver a maneira como ela via a relação com Rue, ainda para mais sendo que se ficou com a dúvida, no final da 1.ª temporada, se Jules realmente amava Rue ou se simplesmente a estava a usar. Por essa razão foi bastante bom – e necessário – perceber o quanto ela a amava e tinha medo de não ser correspondida da mesma forma, e o quanto receava não corresponder às expectativas de Rue ou até mesmo magoá-la e levá-la, consequentemente, a ter uma recaída. Isso não só a assustava porque sabia que Rue a via como razão para a sua sobriedade, mas também por tudo o que ela passou com a mãe, que também tinha problemas com dependência. Lidar com tudo isso não deve ser fácil e por essa razão não condeno as atitudes de Jules.

Contudo, isto mostra quanto uma boa comunicação pode acabar com metade dos problemas de uma relação, quer seja ela amorosa, quer seja de amizade. Se Jules tivesse falado com Rue sobre o que sentia, e especialmente sobre a situação da mãe, talvez o desfecho não tivesse sido aquele que vimos no último episódio da temporada. Ou até tinha sido, mas talvez se Rue soubesse e entendesse os motivos de Jules, a atitude dela não teria tido o impacto que teve – ou Rue até poderia ter ajudado de alguma forma.

Não obstante, ao contrário do que estava à espera, a relação com Rue não foi a única a ser abordada sendo que a relação online entre Jules e Nate (apesar de ela só ter ficado a saber que era ele muito mais tarde) também foi tema de conversa e ainda bem que assim foi. Não só porque conseguimos entender melhor os sentimentos de Jules por Nate, mas também porque dessa forma foi possível perceber a diferença entre o amor que ela sentia por Rue e aquele que sentia por Nate. A relação com Nate não passava da imaginação dela e por isso é que se apaixonou tão facilmente e não tinha tanto receio de se deixar levar, enquanto o que sentia por Rue era real e, portanto, mais assustador, já para não falar que era a primeira rapariga com quem se envolvia. É bastante interessante analisar estas diferenças e o impacto que estes sentimentos tinham em Jules, para além de que lidar com essa confusão toda na mente dela não deve ter sido mesmo nada fácil. Ainda bem que o pai a obrigou a ver uma terapeuta, pois acredito que dessa forma ela vai conseguir lidar melhor com as coisas, não só em termos de relacionamentos, mas também da forma como se vê a ela própria.

Posto isto, só me resta referir a ligação que fizeram entre este episódio e o primeiro, algo de que também não estava à espera. Pensei que estas duas partes fossem servir somente de episódios independentes que mostrassem como estavam a Rue e a Jules enquanto não sai a 2.ª temporada (que com muita pena minha ainda não tem data de estreia), no entanto, eles servem efetivamente de ponte entre as duas temporadas, interligando-se bastante bem não só entre eles mas também entre ambas as temporadas, acabando mesmo por revelar um pouco daquilo que pode vir a acontecer na 2.ª temporada de Euphoria. Outra coisa que tenho que mencionar é a cinematografia, que foi simplesmente excecional, especialmente nas cenas que envolveram Nate e Jules. O jogo de cores e os planos escolhidos funcionaram na perfeição e fizeram recordar bastante aquilo que estávamos habituados a ver em Euphoria.

Cármen Silva

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