Big Little Lies – Review da 2.ª temporada
| 06 Ago, 2019

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Temporada: 2

Número de episódios: 7

[Contém spoilers]

Depois de dois anos de espera, as Monterey 5 estão de volta. Só mesmo canais como a HBO para nos conseguirem brindar com séries com tantas atrizes tão boas e conceituadas. E nós agradecemos! O que por vezes falta a Big Little Lies em termos de conteúdo compensa com o elenco muitíssimo talentoso que reúne. Especialmente nesta 2.ª temporada.

Li o livro de Liane Moriarty antes mesmo de ver a 1.ª temporada. Apesar de a série se passar nos Estados Unidos e não na Austrália e Madeleine ser morena e não loira, a verdade é que a série foi muito, muito, bem adaptada. Aliás, a série é tão boa que me fez gostar de atrizes que antes não suportava, como Nicole Kidman e Shailene Woodley. Tinha alguns receios acerca da 2.ª temporada, da insistência em fazer render o pão, do futuro da série sem o material do livro… Mas depois li que Meryl Streep ia entrar no elenco e fiquei ligeiramente histérica de felicidade.

Big Little Lies nunca se vende por mais do que aquilo que realmente é. Uma história sobre mulheres, mulheres reais. Mulheres frágeis e fortes, inteligentes e ingénuas, lindas e também cruéis. Mulheres com dúvidas e receios e que se sentem esmagadas pelo peso do mundo. Quem nunca se identificou com nenhuma delas?

Depois de uma temporada de guerras, de Renata com Jane e Madeline e de Madeline com Bonnie, as cinco mulheres, Madeleine, Celeste, Jane, Renata  e Bonnie, estão unidas. Desta vez, o inimigo delas é outro. O segredo. E Mary Louise. No livro, Bonnie acaba por confessar no final que foi ela quem empurrou Perry das escadas. Faz sentido! A mentira estava a comê-la por dentro. Na série, deixaram a confissão em aberto para abrir uma possível 2.ª temporada. Mas se pensarmos realmente bem no assunto, não havia razões para temer contar à polícia o que realmente aconteceu. Perry estava a pontapear Celeste sem dó nem piedade e a morte acidental seria inteiramente injustificada. No livro, Bonnie apenas teve de fazer trabalho comunitário.

O segredo acerca da morte de Perry afetou as cinco mulheres, sendo as mais afetadas Bonnie e Celeste. Bonnie por ter sido a autora da morte e Celeste por ter perdido o marido e pai dos seus gémeos.

Mesmo morto e enterrado, Perry continua bem presente na vida de Celeste. A advogada não consegue ultrapassar os bons momentos que passou com o marido, que, apesar de tudo, foram muitos. O facto de o marido estar morto fez que os maus momentos, toda a violência física e psicológica fosse amenizada no seu consciente. Pelo menos foi assim que eu vi as coisas. A presença de Mary Louise, que não fazia ideia dos comportamentos do filho, não ajudou porque a sogra descrevia o filho como um anjo, excelente marido e excelente pai. A própria psicóloga queria que Celeste esquecesse Perry à força e piorou mais do que ajudou.

Só o pedido de guarda de Josh e Max fez com que Celeste acordasse para a vida, que visse todo o mal que Perry fez à família. Celeste não estava a conseguir lidar com a perda, com os sentimentos de amor/ódio em relação a Perry. Contudo, felizmente voltou a si. A cena em que mostra em tribunal o vídeo que os gémeos filmaram de Perry a espancá-la deixaram-me mais perturbada do que qualquer cena entre eles na 1.ª temporada. Dois pequeninos, a filmarem o pai que tanto adoravam, a espancar a mãe. Como conseguem crianças que na altura tinham seis anos ou menos lidar com isto? A imitar o pai, espancando colegas na escola e a serem desrespeitosos para a mãe quando ela não está de acordo com eles. Big Little Lies sempre apresentou o caso de violência doméstica de uma maneira muito real. Tão real que deixava uma pessoa agoniada. No final, Celeste despede-se de Perry. Diz adeus à vida de abuso e rumo a uma vida mais feliz, com Max e Josh e toda uma carreira por explorar.

Jane acaba por ter o arco mais feliz e pacífico da temporada. Apesar de ser público que Perry a violou e que Ziggy é meio irmão de Max e Josh, Jane é uma mulher que vive num mundo em que o homem que tanto mal lhe fez não existe. Com um emprego novo, Jane conhece Corey, que finalmente quebra as suas barreiras e a faz querer amar novamente. Apesar de o segredo a atormentar – como fez com todas -, Jane é uma mulher nova.

Pobre Renata. É a mulher com o maior par de ovários desta série, uma mulher de negócios, poderosa e rica devido ao seu próprio esforço e o traste do marido deixa-a na falência? Acho que também enlouquecia um bocadinho. Renata foi a responsável por organizar um dos melhores momentos da temporada, a tensa/animada festa de anos de Amabella e dos melhores momentos da temporada – quando expulsa Gordon do carro, quando descobre que ele a andava a trair com a ama de Amabella e quando frita da marmita e destrói os brinquedos do marido. No livro, descobrimos na fatídica festa em que morre Perry que Gordon traía Renata com Juliette (de maneira muitíssimo hilariante), mas aqui também nos foi revelado de maneira magistral (morri com a “gestão de stress”). Apesar de o marido lhe ter tirado aquilo que trabalhava tão arduamente para conquistar, Renata ainda pensou que o amor deles falaria mais forte e continuou. Saber que ele a enganava mesmo por baixo do seu nariz foi demais.

Madeline e Bonnie acabaram por ter as histórias mais fracas e pobres da temporada. Zöe Kravitz já peca por ser a atriz mais fraca da série (também com gigantes como Meryl Streep e companhia não teve a vida fácil) e pelo seu enredo que girou em volta da culpa que sentia em esconder da família que tinha morto Perry e da mãe, que a maltratava em criança, o que acabou por condicionar a sua vida toda (até mesmo o casamento). Foi muito encher chouriço, muito sem sal, muito meh. Não estava à espera que dissesse que não amava nem nunca tinha amado Nathan (que traste de personagem, nem vale a pena falar mais dele). Isso tenho de admitir que foi uma boa jogada! Bonnie assume finalmente o controlo da sua vida após a morte da mãe.

Já Madeline lixou-se porque Ed descobre a traição e passamos toda uma temporada no andam/não andam. Tudo muito chatinho, mas aqui podemos destacar e aplaudir as performances de Reese Witherspoon e Adam Scott, que são brilhantes e quase nos fazem esquecer do cliché da história. No final de tudo fiquei sem perceber se Ed realmente cedeu aos encantos de Tori… Sou só eu ou aquilo não foi muito bem explicado?

Meryl Streep. A grande, gigante, titã Meryl Sreep. Merece cada centímetro de prémios e adjetivos que recebe. Devia receber Emmys e Óscares só por respirar. Adoro-a, mas cada vez que Mary Louise abria a boca só me apetecia enfiar-lhe os óculos e a peruca pela goela abaixo. Que mulher demoníaca, que bruxa! Não só infernizou a vida a Celeste (devia ganhar um Emmy cada uma pelas cenas de tribunal), mas mexeu com a cabeça delas todas, especialmente quando culpava Jane pela”suposta violação”. Mulher intragável que deixava todas as Monterey 5 com os nervos em franja. No final foi recambiada para São Francisco e deixou Celeste viver em paz com os pequenos.

Devido aos horários preenchidos das atrizes, a HBO já falou que será complicado fazer uma 3.ª temporada. Estou em conflito. Acho que a série já deu o que tinha a dar, mas quero saber o que vai acontecer a Bonnie, Madeline, Celeste, Renata e Jane após a confissão à polícia.

Com isto, despedimo-nos da série, que teve muitos alto e baixos, mas que mesmo assim não nos desiludiu e até nos fez querer um pouco mais, quiçá…

Melhor episódio: 

Episódio 2 – É o episódio que dá rumo à temporada, cheio de revelações e emoções fortes. Ziggy descobre quem é o pai e as circunstâncias devido a uma falha por parte de Madeline. Ed descobre a traição de Madeline depois de na season finale da 1.ª temporada ter ficado com a sensação de que algo estava mal. Renata descobre que o marido os levou à falência. Celeste continua a sua luta interna em relação aos sentimentos pelo marido. Conhecemos a mãe de Bonnie. É um episódio em que relações começam a ruir pelos segredos, que nos mostra como o dom da palavra é importante e como a vida de alguém pode ruir por isso mesmo.

Personagem de destaque:

Renata Klein (Laura Dern) – Tanto no livro como na série a minha personagem favorita sempre foi a Madeline de Reese Witherspoon. Renata para mim era a ovelha negra. Não a suportava. No entanto, surpresa das surpresas, ela foi sem dúvida o melhor desta 2.ª temporada e passei a adorá-la. Teve um dos arcos mais interessantes da temporada e mostra em várias cenas a razão pela qual a atriz devia voltar a ganhar o Emmy. A cena em que em cerca de 30 segundos diz quarenta asneiras e  na que destrói os brinquedos do marido foram motivo de aplausos da minha parte. Grande, grande Laura Dern, que consegue ser a verdadeira estrela da temporada, mesmo ao lado de Meryl Streep!

Maria Sofia Santos

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