Rabo De Peixe – 01×01 – Tempestade
| 26 Mai, 2023
6.7

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Rabo de Peixe é a nova aposta da Netflix nas produções audiovisuais portuguesas. Os sete episódios da série, vagamente inspirada em eventos reais, ficaram hoje disponíveis na plataforma de streaming.

Nada acontece na pequena localidade açoriana de Rabo de Peixe, até que uma tonelada de cocaína dá à costa e muda por completo a vida dos seus habitantes. Eduardo (José Condessa), um jovem pescador, e os seus amigos improvisam um negócio com o que chega do Oceano Atlântico, mas uma tonelada de cocaína não passa despercebida e os protagonistas irão enfrentar os donos da droga, a polícia e uma série de personagens imprevisíveis numa aventura perigosa.

Para Augusto Fraga, criador e realizador da série, é “um enorme orgulho poder mostrar os Açores ao mundo, contando uma história incrível”, naquele que é, para o realizador açoriano, um “dos lugares mais especiais do planeta”. Para além de entreter, o realizador espera que a série reflita “sobre a fortuna e fatalidade da condição humana”.

“O que acham que acontece se despejarem milhares de quilos de cocaína numa das aldeias mais pobres da Europa?”, começa por perguntar-nos o narrador. Um padre “capota na missa” e um dos seus acólitos corre para o armazém onde Eduardo e os seus amigos estão a empacotar cocaína. Antes de nos deixar ver mais, a série recua dez dias na sua narrativa para percebermos como chegámos aqui.

Se Rabo De Peixe rapidamente prende a atenção do espectador, com uma realização e uma banda sonora cativantes, igualmente o distrai com as suas falhas. A narração de Pêpê Rapazote, por exemplo, é absolutamente desconcertante, não só pela prestação exagerada do ator, mas também porque os guionistas acharam boa ideia pô-lo a misturar português com inglês, numa decisão sem aparente justificação. Será para sublinhar o historial de emigração da população açoriana para os EUA? Não acho que se justifique, já que a série sublinha esse aspeto o suficiente. Para além disso, uma pesquisa rápida mostra-nos que a personagem de Rapazote se chama Uncle Joe – nem sequer Uncle Sam, um dos mais icónicos símbolos dos EUA. Nada parece fazer sentido nesta narração desnecessária, que desvia a atenção da narrativa.

Também desconcertante é a ausência total do sotaque micaelense, apesar de o vocabulário das personagens estar repleto de expressões típicas do seu calão, e, ainda, os efeitos especiais nas cenas em que o barco dos mafiosos italianos, que transporta a cocaína que dá à costa, naufraga.

Mas não há só coisas más em Rabo De Peixe. A atmosfera que a série conseguiu criar à volta da personagem Sílvia (Helena Caldeira) – amiga e interesse romântico de Eduardo -, do seu quarto ao América, o videoclube onde trabalha, é bastante cativante, transportando o espectador diretamente para os anos 2000. É pena que essa atmosfera não envolva sempre todas as personagens, que facilmente se encaixariam nos dias de hoje. Também os diálogos, ainda que por vezes demasiado expositivos ou demasiado melodramáticos, surpreendem pela sua verossimilhança e os atores que os entregam fazem-no com verdade. José Condessa, aliás, continua a provar que é um dos atores mais talentosos da sua geração.

Rabo de Peixe vê-se bem – não lhe falta bons atores, bons planos e boa música -, mas temo que se fique por aí. É mais uma série para se perder no infinito catálogo da Netflix.

6.7
7.5
Interpretação
6
Argumento
6.5
Realização
7
Banda Sonora

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