Outcast presenteia-nos com a continuação da construção de uma boa história. O episódio desta semana focou-se bastante no passado de Kyle Barnes com a mãe, na reação do reverendo Anderson ao exorcismo da semana passada e continuamos a aprender sobre os elementos que estão em jogo nesta narrativa.
Primeiro é preciso lembrar que, tal como The Walking Dead, esta é uma série de slow burn, querendo com isto dizer que não vão haver cenas de ação e picos de adrenalina em todos os episódios. A elaboração do enredo é um passo bastante importante nesta série e vamos acumulando bocadinhos de informação que só mais tarde perceberemos onde encaixam na história geral. Ou seja, haverá de certeza críticas que dirão que nada se passou em alguns episódios e que os produtores só estão a enrolar. Tudo isto para dizer que apesar deste episódio ter tido um ritmo mais calmo que o anterior, no final, se revimos bem, apercebemo-nos que muitas coisas se passaram.
Tal como o título nos indica, o grande centro do episódio foi o passado de Kyle, nomeadamente, a sua relação com a mãe sob o seu ponto de vista. Vemos a altura em que a mãe de Kyle era ela própria e o amava mais que tudo na vida, onde a vida tinha cor e tudo era alegria, e depois assistimos ao exato momento em que tudo corre mal e Sarah Barnes é possuída por uma entidade maligna. Daí para a frente vemos os abusos contínuos da mãe para o filho até ao momento em que ele decide ripostar e a cena final em que consegue expulsar o demónio da mãe.
“I Remember When She Loved Me” é também o nome do terceiro capítulo dos comics de Outcast criado por Kirkman e Azaceta. No entanto, se no primeiro episódio vimos uma clara adaptação do primeiro capítulo da banda desenhada, vemos agora a história a tomar uns contornos diferentes. Parece-me que teremos uma história baseada nos comics e que se seguirá por eles, mas que acrescentará muitos elementos novos, que complementará a história anterior e que poderá divergir em alguns aspetos da história original.
Como estava a dizer, vemos bastante da relação de Kyle e Sarah no passado, mas também vemos o que se passa no presente. Até ao episódio passado, Kyle nunca tinha percebido bem (e mesmo agora não percebe de todo) o que se tinha passado com a mãe e o porquê da mudança súbita de comportamento. Para ele a mãe tinha apenas virado um “monstro” que o maltratava, mas que continuava a ser ela. E depois de ela ter ficado em coma, nas palavras dele, ele tinha pensado que “nunca iria perder um minuto de sono” a pensar se o coma da mãe tinha sido culpa dele ou se poderia ser revertido ou quê. Estava livre dos abusos e a mãe tinha sofrido apenas o castigo justo e divino. Só que após presenciar o que aconteceu com Joshua tudo muda. Se os demónios existem mesmo, então o que se passou muda de figura, ele não sofreu de violência doméstica, ele sofreu de assombração demoníaca! E se Joshua voltou a ser o rapazinho que era antes, porque ficou a mãe dele em coma? Será que parte do demónio ainda lá está? E é com estes pensamentos que Kyle decide raptar a mãe do centro de cuidados médicos onde estava para repetir o ritual de exorcismo e a tentar trazer de volta.
E não foi só o Kyle que mudou com o caso de Joshua, o reverendo Anderson também teve um momento de clarividência e decide que precisa de tomar medidas e prevenir que novos casos de possessão aconteçam. É verdade que este não foi o primeiro exorcismo de Anderson e que ele já viu coisas inexplicáveis na sua vida, mas com a presença de Kyle as coisas foram diferentes. As coisas foram mais intensas, mais reais, o demónio sob a forma daquela poluição negra foi expulso de Joshua e os resultados são bem visíveis. Agora pensem vocês, se soubessem que os demónios são reais e fossem um dos “agentes” de Deus, o que fariam? Anderson decide que deve avisar a todo o custo a sua paróquia – mesmo que isso implique ser bruto, brusco e direto – de que o mal está à porta e que só indo à missa e rezando é que poderão proteger as suas almas. Só que vendo tantos lugares vazios na sua igreja decide que é preciso fazer mais, é preciso convencer as pessoas de que precisam mesmo de ir à igreja, é preciso espalhar a palavra do Senhor, e que melhor maneira do que reunir um exército de beatas? O exército de Anderson! Se, como a mim, o nome vos fez lembrar o exército de Dumbledore, a realidade está longe disso. Até as mais crentes parecem ouvir nas palavras do padre metáforas e não um relato de factos. E o que se passa com a tão grande aversão de Mildred para com Kyle? E o interesse de Patricia no reverendo? Serão tudo reações humanas normais ou estará já o exército de Anderson infiltrado de demónios?
Kyle está todo decidido a mudar a sua vida. Para além de tentar reaver a mãe, também quer restabelecer os laços com a filha e até já trocou as calças de pijama por jeans! Por intermédio de Megan decide enviar um presente de aniversário a Amber, um livro de banda desenhada (Homer Price) que Kyle lia em criança e que parece que Allison reconhece. O que será que Allison vai fazer? Irá fazer queixa de violação da ordem de restrição ou aceitar esta tentativa de contacto de Kyle? No telefonema, da semana passada, e com o presente agora, não vos parece que Allison tem a esperança de recuperar o que antes havia? Será que, tal como o passado entre Kyle e Sarah, veremos nos próximos episódios o que se passou claramente entre Kyle, a mulher e a filha?
Os laços entre Kyle e o reverendo Anderson continuam a fortalecer-se. Enquanto, por um lado, vemos Anderson a defender Kyle das acusações da polícia e dos mexericos das beatas, Kyle também confia em Anderson para tentarem exorcizar de novo Sarah. E foi muito interessante ver os dois pontos de vista, com Kyle a achar que parte do demónio ainda estava dentro da mãe, enquanto na versão de Anderson o que causou o coma de Sarah foi o demónio ter levado parte dela. Falhando o exorcismo, parece que a versão de Anderson é a mais acertada. Mas quanto de Sarah é que foi levado e será que nunca pode ser recuperado? No final vemos Sarah a verter uma lágrima, logo algo da alma dela ainda permanece no seu corpo.
O grande mistério do episódio foi-nos apresentado sob a forma de um homem velho vestido de preto, The Man in Black. Não parece ser de todo bom, mas parece ser mais do que uma simples pessoa possuída. E o que quis dizer no seu discurso a Sarah? De que forma é que eles têm o Kyle? Nos flashbacks vemos o demónio sob a forma de fumo negro a agarrar o jovem Kyle e a fazer-lhe alguma coisa, mas o que foi que realmente lhe fez?
Tivemos ainda um subplot com o Chefe Giles e Mark Holter, numa investigação bastante enigmática com animais mortos e pregados a árvores que formavam um trilho para uma roulotte abandonada. Onde se insere tudo isto na história de Kyle? Será mais uma pessoa possuída que estava a espreitar? Outro pormenor interessante nesta dupla é que Giles parece acreditar que há forças em jogo que fogem ao seu controlo e compreensão, enquanto que Mark (e também o vizinho de Kyle) nos mostram o mundo segundo a objetiva do normal e quotidiano.
Não posso ainda deixar de realçar o excelente trabalho de realização, neste episódio, levado a cabo por Howard Deutch, que consegue tão bem conjugar a cor e as luzes com os eventos do passado e os do presente, moldando-nos dessa forma o espírito, assim como muda brilhantemente as cenas de calmaria no presente com Kyle para os momentos aterradores da possessão passada de Sarah. Parabéns também para a qualidade de imagem e dos efeitos especiais, assim como a banda sonora.
E com a estreia de outro reverendo fora do normal em Preacher, para quem segue as duas séries, quem acham que é o reverendo mais irreverente: Preacher ou Anderson?
“All Alone No”, o próximo episódio, estreia na semana que vem e com uma nova possessão acho que teremos cenas de nos deixarem com os pelos em pé e a olhar para os cantos mais escuros da sala. Numa nota aparte, o filme The Conjuring 2, que estreou esta semana nos cinemas, já foi considerado uma obra-prima moderna de terror, por isso enquanto esperam pelo próximo episódio podem dar uma vista de olhos nesse filme e depois digam-me o que acharam. Até lá, cuidado com os sítios escuros.
Este site usa cookies para melhorar a experiência do usuário.Cookies são pequenos arquivos de texto colocados no seu computador pelos sites que consulta. Os sites utilizam cookies para ajudar os usuários a navegar com eficiência e executar certas funções.
Cookies Estritamente Necessários
Os cookies estritamente necessários permitem a funcionalidade central do website. Este site não pode ser utilizado corretamente sem os cookies estritamente necessários.
If you disable this cookie, we will not be able to save your preferences. This means that every time you visit this website you will need to enable or disable cookies again.
Cookies de Terceiros
Este site usa cookies de terceiros para o bom funcionamento do site, para o desenvolvimento de informação estatística e mostrar publicidade direcionada através da análise de navegação. Ao aceitar, ajuda-nos a melhorar o nosso site.
Please enable Strictly Necessary Cookies first so that we can save your preferences!