As séries portuguesas da minha infância
| 22 Out, 2021

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Eu sou uma daquelas pessoas que, quando está em casa, basicamente tem sempre a televisão ligada. No entanto, só tenho sete canais e, grande parte do tempo, acabo por recorrer à RTP Memória, um canal bastante bom para apelar à nostalgia de outros tempos. Foi precisamente por causa disso que me lembrei de escrever sobre as séries portuguesas da minha infância, numa altura em que a ficção nacional dominava a nossa televisão. Se nasceste entre o final dos anos 80 e inícios dos anos 90, lembras-te, de certeza, de várias destas séries. Vamos lá recordar?

as lições do tonecas

As Lições do Tonecas: Esta série é a adaptação de um livro, com o mesmo nome, da autoria de José Oliveira Gomes. Antes de ter chegado às nossas televisões, já tinha sido apresentada aos portugueses como sitcom radiofónica da década de 30. Esteve nos ecrãs entre 1996 e 1999, período que coincidiu na perfeição com a minha frequência da escola primária. Era uma daquelas séries que me lembro de ver em família e mesmo sendo tão novinha, estava convencida de que Tonecas era um bocado… mau aluno. O conceito era simples: a história passava-se toda numa sala de aula, com um aluno sem noção e um professor frustrado pela incapacidade de o seu aluno aprender como personagens centrais. Havia frequentemente figuras bem conhecidas do público como convidadas especiais, mas os próprios colegas de Tonecas eram meros figurantes. As áreas de interesse de Tonecas não eram aquelas que importavam para a escola e ele detestava estudar, portanto, as perguntas que o professor lhe fazia nunca tinham direito a uma resposta acertada. Era esse o lado cómico da série, a roçar o exagero, como é suposto numa série que não pretende ser subtil, mas descaradamente flagrante. Se costumas reparar que nas séries americanas há atores com quase 30 anos a interpretar adolescentes, aqui temos Luís Aleluia, já bem entrado nos trinta, a dar vida a um miúdo do ensino básico. O genérico era bastante giro, vale também a pena mencionar.

A Minha Família é uma AnimaçãoEntre 2001 e 2003, esta série esteve no ar, na SIC. Dirigida a um público mais jovem, A Minha Família é uma Animação centra-se numa família com um novo membro, um desenho animado chamado Neco. Ele é fruto da relação entre Zé (Fernando Luís) e Luísa (Ana Bustorff) e vai criar uma ligação muito próxima com o anterior caçula da família, Rafael. Da família fazem também parte Rita e Tiago – que, tal como Rafael, são filhos de Luísa de um primeiro casamento – e Júlio, o pai de Zé. Neco é muito traquinas e engraçado, é literalmente a animação da casa, mas para a família é preocupante que as outras pessoas possam tratá-lo de forma diferente. Assim sendo, Neco vive escondido. É a forma que a família encontrou de o proteger. Esta é uma daquelas séries que tenho a sensação de ter visto centenas de vezes, talvez porque havia constantes repetições a passar na televisão.

A Minha Sogra é uma Bruxa: Sogras… Quem as tem costuma queixar-se e Alberto não podia ter mais razões para isso. A série estreou já no fim da minha infância, mas é uma daquelas séries que, se ainda hoje a apanhar a dar na televisão, me diverte. A protagonista é Rosa Lobato de Faria, no papel de Elvira, que é uma bruxa, literal e figurativamente. A filha dela, Amanda, é casada com o pobre Alberto, que é bastante maltratado pela sogra. O casal tem dois filhos, Magda e Edgar, dois miúdos que partilham os poderes da avó. Suponho que é daquelas coisas que salta uma geração, porque Amanda é tão muggle como eu. Há montes de peripécias com Elvira a esconder os seus poderes de todos menos dos netos e da filha; há a vizinha completamente chanfrada, mas absolutamente cómica, com um visual absurdo; há o marido da vizinha, que só quer paz e sossego para ver televisão; há a atraente e sedutora chefe de Alberto na produtora televisiva e uma panóplia de outras personagens que vão aparecendo. Uma fórmula simples, mas que funciona bastante bem.

Crianças SOS: Muito antes de ER ou Grey’s Anatomy terem entrado na minha vida, houve Crianças SOS, uma série da TVI de 2000 que se passava num hospital pediátrico. Não sei explicar porque é que gosto de séries médicas (o género agora está completamente saturado, mas ainda assim), até porque, como rapariga de letras, a minha área de interesse não costuma pender para o lado da ciência, mas a verdade é que há um certo apelo neste tipo de histórias. Talvez porque vão muito além da medicina e se debruçam muito nas pessoas, nos seus problemas e nas relações humanas… Acho que o lado humano era precisamente o atrativo desta série que, ainda por cima, tinha uma lista imensa de atores bem conhecidos no elenco.

Jornalistas: Das séries desta crónica, Jornalistas é uma daquelas acerca das quais tenho recordações mais vagas, talvez porque nunca vi nenhuma repetição numa fase mais tardia da minha vida. A série da SIC estreou em 1999, terminou no ano seguinte e passava-se na redação de um jornal, A Gazeta. Do elenco faziam parte imensos nomes conhecidos da nossa ficção, como Sofia Alves, Paulo Pires, Fernanda Serrano, Rita Salema e Catarina Avelar. Quase aposto que esta série fez com que muitos meninos e meninas quisessem ser jornalistas. Além disso, a série já não se inseria no género da ficção para miúdos, portanto permitia-nos ver coisas um pouco mais adultas, mas que, ainda assim, não eram inadequadas para uma faixa etária mais jovem.

Médico de Família: A ficção nacional gostava de histórias sobre homens viúvos que se viam a braços com a educação dos filhos e Médico de Família enquadra-se nessa narrativa. A série da SIC esteve no ar entre 1998 e 2000 e centrava-se num médico (de um centro de saúde, se não estou enganada) e na sua família, algum tempo depois de a sua mulher ter morrido. No entanto, a componente mais épica da série era a maravilhosa Lucinda (interpretada por Maria João Abreu), a empregada da casa que fazia tudo funcionar e, ainda por cima, era imensamente engraçada e, se bem me recordo, tinha um sotaque também muito peculiar. Era uma daquelas séries que acho que todos os miúdos viam em família.

Os Andrades: Foi por causa desta série, que está em repetição na RTP Memória, que tive a ideia de escrever esta crónica. Os Andrades esteve em exibição entre 1994 e 1997, mas lembro-me bastante bem da comédia, por isso suponho que apanhei emissões posteriores. A história centra-se numa família do Porto (temos direito a genuínos sotaques nortenhos da maior parte do elenco) e acompanha as peripécias do seu quotidiano. São cinco os elementos que constituem esta família: pai, mãe, filha adolescente, filho mais novo e avó materna. O lugar de Zulmira devia era ser a prisão, porque o nível de violência doméstica que ela exerce sobre o genro, o desgraçado do Marcial, é atroz. Ela insulta-o, é “paspalho” para aqui, “paspalho” para acolá, e o homem lá a vai aturando, com mais calma do que seria de esperar. Também está sempre a ser oferecida porrada a Zezé, o caçula da família, mas naquela altura era normal as crianças serem castigadas dessa forma e a verdade é que a coisa ali não passava da ameaça. É impossível não gostar de Marcial, porque o homem é um paz de alma e ninguém merece uma sogra daquelas, o puto é muito engraçado, a filha não é nada a típica adolescente parva, a mãe tenta sempre apaziguar os ânimos e sobre a avó está tudo dito… A paixão de Marcial por futebol (é adepto ferrenho do Futebol Clube do Porto) também é algo com que os espectadores se conseguem identificar facilmente e a verdade é que não há maneira de a série não resultar. Podia ser a casa de muitos de nós e não é precisamente isso que é interessante vermos no ecrã?

Residencial Tejo: Para a minha geração, Maria do Céu Guerra vai ser sempre a Seição de Residencial Tejo, uma comédia da SIC que esteve no ar entre 1999 e 2002. Tudo se passava na residencial que dá nome à série, onde vivia uma panóplia de personagens caricatos e engraçados, mas Seição, com a sua genuinidade, era a alma da história. O elenco era bastante bom, com nomes como Canto e Castro, Ana Padrão, Fernanda Borsatti e o Maestro António Vitorino de Almeida. Confesso que já não me lembro de muita coisa, mas, se bem me recordo, a série era gravada ao vivo, para uma audiência, e no fim o elenco juntava-se, como numa peça de teatro, para receber os merecidos aplausos. Acho que havia um par de irmãs coscuvilheiras e intrometidas que eram o máximo e que, a fazer jus aos meus gostos, aposto que eram as minhas favoritas na altura.

Super Pai: Não deve haver nenhum miúdo da minha geração que não se lembre de Super Pai. A fórmula é um bocadinho semelhante à de Médico de Família, mas aqui temos uma família constituída por um pai e três filhas, sem esquecer a cadela Nina. A sério, o que eu quis ter uma cadelinha como aquela! A série foi emitida na TVI entre 2000 e 2003 e acompanhava o dia a dia desta família, que não fica completa sem Isabel, que trabalha lá em casa e também toma conta das miúdas. Isabel é uma personagem muita genuína de quem é fácil gostar e o seu grande coração conquista rapidamente a família e o público. As miúdas, com idades bastante diferentes, consomem a cabeça ao pai, mas esta é uma daquelas séries felizes em que os conflitos raramente duram, acabando sempre por ter uma solução que funciona como uma aprendizagem para os envolvidos. Mais uma série ótima para ver em família.

Uma Aventura: Devo ter visto dezenas de vezes a 1.ª temporada desta série da SIC que se baseia nos livros, com o mesmo nome, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Suponho que também vi umas quantas vezes a 2.ª temporada e qualquer coisa das posteriores, mas o elenco era imensamente inferior, as histórias não eram tão boas e, no geral, não faziam jus à anterior. Era uma daquelas séries para miúdos boa para ver ao fim de semana de manhã e era giro fazer comparações, na minha cabeça, entre os livros e a adaptação. Também havia sempre a expectativa de ver se os meus livros favoritos da série literária iam passar para o ecrã. Depois também era giro ver convidados especiais diferentes e bem conhecidos em todos os episódios, mas o melhor da série é que tinha aquelas aventuras todas, que acho que qualquer miúdo invejava, tirando as partes perigosas. Ainda por cima, o grupo era muito unido e podiam sempre contar uns com os outros.

Quais destas séries (ou outras) portuguesas fizeram parte da tua infância? Se quiseres conselhos sobre outras produções nacionais que vale a pena ver, temos mais sugestões para ti.

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