O ideal de Inferno na Terra é bem representado na 1.ª temporada de Time. Uma história de uma busca de redenção no mais inóspito dos locais, esta produção da BBC mostra-nos um retrato cru e ominoso do que é o dia a dia de uma prisão e da forma como gerimos não só a culpa, como as emoções e irracionalidade do ambiente selvagem em que entrámos. Falo como se fossemos nós a entrar pelas portas de Shrewsbury e a ver a luz dar lugar à escuridão todos os dias, pois foi isso que a minissérie Time me fez sentir. Uma viagem que é feita pelos olhos de um professor, homem comum da sociedade, com quem facilmente nos relacionaríamos e que nos relembra da facilidade com que as circunstâncias das nossas vidas se podem alterar, por um azar ou acaso.
Mark Cobden (Sean Bean), recém entrado nesta prisão, é calado e respeitoso, tentando passar despercebido e ser cordial nas suas ações, aprendendo depressa. Contudo, a falta de regras e convenções sociais leva-o a estar exposto a perigosos choques que constituem uma constante ameaça à sua vida, que se agrava por uma evidente autocomiseração sua, visto que permite abusos e intimidações, encarando-os sem reação, num evidente sinal de que sente merecer qualquer atrocidade que lhe seja feita como justa punição pelas suas ações. Torna-se claro que a prisão representa muito mais do que uma simples sentença. A clausura e confinamento são uma metáfora para a luta interna de Mark com os seus demónios e do lento e angustiante processo de aceitação da atrocidade que cometeu.
Por seu lado, o guarda “Boss” Eric McNally (Stephen Graham) é o centro de tudo o que se passa em Shrewsbury. É uma figura forte e marcante, mas justa no caos que é esta prisão, sendo o único que cedo exibe a sua autoridade ao exigir ser tratado por este título. É um reconhecimento que consegue retirar de todos os prisoneiros. Tanto intimida os mais problemáticos, usando a força da sua presença para criar justiça no caos, como igualmente é a ele que os prisioneiros mais cumpridores recorrem quando necessitam de algo ou desesperam por algum sentido de humanidade e civismo nos pesados formalismos e rigor da prisão. Porém, circunstâncias da sua vida pessoal desafiam a moralidade e equidade de Boss, colocando em risco a permanência da ordem ao ser chantageado e obrigado a negociar com um grupo de prisoneiros, o que ameaça alterar todo o paradigma desta história.
É impossível ficar indiferente a esta série quase documental, orquestrada de forma brilhante e com interpretações sublimes, que nos mostra a parte humana e “diplomática” que consome a estadia de Mark nesta prisão britânica. Um autêntico jogo de sobrevivência, alimentado por acordos nas trincheiras e alianças inesperadas, enquanto procura uma convivência mais pacífica com os seus demónios. A 1.ª temporada de Time consegue mostrar os dois lados da moeda: a catarse e jornada aterrorizante que se sucede ao impulso ou acontecimento do crime em oposição à luta, daqueles próximos de quem partiu, contra a irracionalidade na racionalidade das suas emoções ao encararem a perda. Causa-efeito, moralidade vs. sobrevivência, perdão vs. raiva. Esta é uma descida ao estado mais primitivo do ser humano.
Melhor episódio
Episódio 2 – Este é o episódio que traz maiores desafios aos dois personagens principais, obrigando-os a agirem e saírem das suas zonas de conforto em nome de razões de superior importância. É igualmente o episódio que levanta o véu sobre o passado de ambos.
Personagem de Destaque:
“Boss” Eric McNally – Boss divide o protagonismo na série com Mark, mas o peso da sua influência e ações é bem mais significativo no avanço da história. Boss sofre em silêncio, mas atua sempre em consciência. A sua frieza e ar fechado escondem a sua verdadeira natureza humana e altruísta.
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