O Desertor (Der Überläufer, no original) é uma minissérie alemã baseada no romance, com o mesmo nome, do escritor Siegfried Lenz. Dividida em dois longos episódios (1h30min cada), dá-nos a conhecer a história de um soldado alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Não sei se faz sentido dizer que Walter tem uma grande sorte por ter sobrevivido um par de vezes à morte ou se tem um grande azar por ter estado envolvido em várias situações de extremo risco, mas suponho que seja assim mesmo na guerra.
Esta minissérie não é genial, isso posso adiantar já. Tem personagens extremamente irritantes a fazerem coisas altamente reprováveis e plots pouco credíveis, mas ao focar-se muito na guerra enquanto luta armada e deixando de parte questões mais delicadas do conflito, como o extermínio levado a cabo pelos nazis nos campos de concentração, consegue entreter bem e agarrar à história sem chocar ou emocionar. Uma boa escolha para uma série com episódios longos que poderiam tornar-se demasiado pesados, mas a verdade é que o tempo até acaba por passar bastante rápido e eu sou pessoa para preferir episódios mais curtinhos.
Temos tempo para o romance entre o belo soldado alemão e a bonita e sensual rapariga que, como polaca e resistente, devia odiá-lo, mas não odeia, muito pelo contrário. Eu sei que este tipo de história é frequente e tenta transmitir ao espectador que o amor pode surgir em qualquer lado, mesmo no mais horrível dos cenários, mas confesso que não tenho paciência, ainda para mais quando as coisas acontecem de forma quase instantânea e se revelam tão simples. Basta o amor, mais nada! Sinto isto como um ataque à minha inteligência e à de qualquer espectador. Chamem-me cínica por isso, que não me importo! Nesse aspeto, O Desertor nunca abandona o idealismo, mas arranja espaço para debater algumas questões importantes. Pena que isso tenha sido apenas 1/4 da trama, mas deu à minissérie uma seriedade e relevância da qual não se tinha mostrado capaz até aí.
Se andas à procura de uma minissérie e ficaste com curiosidade, podes ver O Desertor na RTP Play, mas apressa-te, porque os episódios não costumam ficar disponíveis por muito tempo.
Melhor episódio:
Episódio 2 – Este episódio não começou da melhor maneira, muito por culpa de alguns acontecimentos que parecem altamente improváveis, ainda para mais da forma como nos foram apresentados. Tratando-se de uma série passada num período da História recente da Europa, mesmo tratando-se de um produto de ficção, acho que fazia sentido alguma preocupação com a credibilidade da narrativa. Revirei mentalmente os olhos algumas vezes, mas O Desertor conseguiu redimir-se precisamente na fase do pós-guerra, que não vemos tantas vezes abordada na ficção. A facilidade com que as coisas mudam em tão pouco tempo é fascinante e nem sempre no bom sentido. Os papéis invertem-se muito rapidamente e aqueles que supostamente queriam fazer algo para tornar este mundo melhor mudam também quando se encontram numa posição diferente, de poder. Bem, e não é sempre assim com as ditaduras? O episódio que encerra a história de O Desertor deixa-nos a refletir sobre várias questões e revela-se verdadeiramente interessante, embora a minissérie esteja longe de roçar o brilhantismo.
Personagem em destaque:
Walter Proska (Jannis Niewöhner) – No primeiro episódio, Walter mostrou-se um personagem bastante desinteressante. Era movido por um sentimento de lealdade para com a pátria que, estupidamente, o impedia de questionar a legitimidade da guerra e de muito do que acontecia à sua volta. Esse papel coube então a outro soldado alemão, Wolfgang, com quem Walter estabeleceu uma relação de amizade e camaradagem. Os caminhos dos dois cruzam-se muito ao longo da série, mas o idealismo (e não só) de Wolfgang parece ter-se perdido pelo caminho e Walter, que parecia tão sem noção, começa a ver as coisas como realmente são. Houve coisas na série que não fizeram sentido acontecer de determinada maneira, mas aqui deu-se precisamente o contrário. Esta mudança em Walter mostrou um crescimento da parte dele e é a prova de que as coisas que fez e que viu outros fazerem deixaram a sua marca.
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