Chilling Adventures of Sabrina – Review da 4.ª Temporada
| 10 Jan, 2021

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[Contém spoilers]

Temporada: 4

Número de episódios: 8

E assim chegou ao fim Chilling Adventures of Sabrina, uma série teen de fantasia que, apesar de todos os clichés que acompanham a combinação destes dois géneros, foi uma produção bem pensada e concretizada, concedendo-lhe o estatuto da melhor série do universo de Riverdale. Ainda assim, nem tudo é um mar de rosas e o final deixa-nos com um sentimento de desilusão e de que poderia ter sido muito melhor.

Não posso ter sido a única a ficar triste com o anúncio de que estes oito episódios seriam os últimos da série. Duvido seriamente que as audiências justificassem tal decisão por parte da Netflix. Pelo menos a perceção que tenho é a de que, de modo geral, CAOS é bem vista pelo público e eu sei que estava mais do que disposta a ter outra temporada repleta de (des)aventuras de Sabrina. Mas dada a nossa impotência no que toca às decisões da gigante do streaming, restou-nos acreditar que os guionistas e produtores conseguiriam dar uma resolução o melhor possível à história, ainda para mais tendo em conta a situação atual da pandemia do novo coronavírus.

Antes de entrar em avaliações desta quarta parte, vamos passar em revista a evolução da série? Chilling Adventures of Sabrina chegou como possivelmente apenas mais um remake e mais uma série focada nos dramas adolescentes com alguma magia à mistura. Ainda que seja tudo isto, a série revelou ser muito mais. Conseguiu transpor a barreira dos remakes falhados e apresentou-se como uma versão atual da história que muitos de nós já conhecíamos da infância. Sexy, dinâmica, imprevisível por vezes e óbvia em muitos plots, com personagens (na sua maioria) interessantes e bem desenvolvidas, Sabrina foi crescendo com o passar das temporadas/partes e conquistando o coração de muitos. Merecia mais oito episódios que dessem uma verdadeira resolução a todas as histórias e que nos deixassem, a nós espectadores, com um sentimento de que o dever foi cumprido.

Esta quarta parte prometia mais uma enchente de alhadas para Sabrina e desta vez a dobrar, com a criação da sua sósia, que ficaria responsável pelo Inferno. Fiquei muito curiosa no final da temporada passada com este plot twist, mas, simultaneamente, receei que a história caísse no exagero e que o interesse se perdesse. Não foi o caso, visto que reduziram ao máximo a presença de Sabrina Morningstar – um grande ponto a favor, na minha perspetiva -, mantendo-nos curiosos sobre o que andaria a fazer. Kiernan Shipka está de parabéns pela sua prestação, especialmente pelas cenas em que as duas jovens interagem uma com a outra. Não deve ser nada fácil gravar a mesma cena duas vezes, interpretando personagens iguais mas diferentes. Aos 21 anos, a jovem atriz prova que tem o que é preciso para vingar neste mundo tão competitivo.

Outro fator que me fez torcer o nariz foi perceber que cada episódio seria dedicado a um eldritch terror. Temi que se tornasse demasiado repetitivo e previsível. Ainda que tenha ficado um pouco óbvio mais ou menos a meio da temporada, gostei desta divisão e fiquei ansiosa pelo próximo terror a enfrentar. De frisar que se as caracterizações e cenários já tinham sido excecionais nas temporadas anteriores, nesta o departamento responsável por fazer acontecer não olhou a meios e tudo esteve impecável, desde o guarda-fato, à maquilhagem, acessórios e todo o ar aterrorizante dos locais onde as cenas se desenrolaram.

Por falar em ar aterrorizante, este é um ponto que me fez gostar imenso desta temporada: a evolução para algo mais assustador/gótico/horrorizante. A série sempre teve essa aura, não fossem estas bruxas e bruxos que adoravam Satanás, mas nesta subiu dois níveis sem nunca perder a essência original de Chilling Adventures of Sabrina, o que me agradou bastante. Se tiver de apontar o dedo a alguma coisa relativamente a este assunto é o Father Blackwood ter sido o vilão até ao fim. Acho que teria feito mais sentido retirá-lo do plot numa fase mais inicial e focar o verdadeiro inimigo no que realmente era – The Void.

E se por um lado alguns plots se arrastaram, como o de Blackwood, outros (muitos mesmo) surgiram demasiado rápido e deixaram-me com pontos de interrogação. É nestas pequenas questões que se nota a falta de preparação para o fim da série que chegou adiantado e que, caso contrário, teríamos respostas para o que pareceu não fazer grande sentido. Aqui seguem os exemplos:

  • O reatar da relação de Sabrina e Nick. Não me interpretem mal. Fiquei mesmo muito contente com este enorme fan service que os produtores nos deram, mas verdade seja dita que tudo aconteceu demasiado depressa. Nota-se perfeitamente que com mais episódios disponíveis o perdão de Sabrina teria sido mais demorado e os esforços de Nick maiores.
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  • Prudence, Roz e Mambo Marie serem uma espécie de trio maravilha responsável por supervisionar se as coisas nos vários reinos estão sob ordem. Quando, como, onde e porque é que isto aconteceu?
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  • Roz ser bruxa. Mas que raio?! Fui a única a ficar estupefacta com isto? Primeiro tinha um sexto sentido, o cunning, que até fazia sentido dado que os seus poderes se ficavam por aí. De repente, a sua avó aparece numa visão e diz-lhe que afinal é descendente de bruxas e de um momento para o outro tudo isto encaixa perfeitamente e todos aceitam sem questionar.
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  • Theo e Robin estão, não estão, podem estar… Não podem negar que a break-up apareceu do nada e sem grande explicação. Ok, Robin tinha de voltar para o reino dos elfos para sobreviver, mas… Faltou ali uma explicação concreta de tudo isto, sabem? Ainda sobre Theo: e aquela história de ser descendente de uma família de caçadores de bruxas? Ficou perdida algures, não é? Tudo bem.
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  • Lilith dá à luz (cena espetacular, já agora) e passados dois episódios tem de matar o filho para que Lucifer não o leve. Really? Estou em crer que essa não seria nunca uma opção para Lilith e estando rodeada de bruxas provavelmente teria encontrado outra solução. Além de que as poucas cenas a que teve direito depois disso não foram suficientes para mostrar o seu sofrimento. E mais: toda esta história do filho de Lilith com Lucifer tinha pano para mangas, ainda para mais chamando-se Adam.

Bem sei que esta review já vai longa, por isso vou passar aos dois últimos pontos que quero abordar. Comecemos pelo episódio alternativo, onde temos o enorme easter egg da participação especial das tias originais de Sabrina. Beth Broderick e Caroline Rhea, as originais Zelda e Hilda em Sabrina the Teenage Witch, e Salem, o gato falante, voltaram aos seus papéis no penúltimo episódio e todos ficámos com o coração aconchegado, não foi? Apesar de não ter grandes memórias desta série, o gato que fala é icónico para qualquer um. Se me queixo desde o início que é uma enorme falha o Salem do remake não falar, fiquei minimamente satisfeita com estes momentos. Gostei igualmente de todas as críticas que, direta ou indiretamente, foram feitas à indústria de Hollywood, como, por exemplo, Roz referir que nunca teria um plot onde lhe seria dado um namorado, dando a entender que personagens negras e secundárias não recebem atenção suficiente para que tal aconteça.

Por fim, o fim. Desde o início da série que receava que Sabrina acabasse exatamente assim, mas tive esperança até ao último momento que a morte (pelo menos permanente), não fosse uma opção válida. Com a abrupta morte de Sabrina Morningstar (e aparentemente sem grande explicação… Morreu de quê, afinal?) pensei que Sabrina Spellman fosse poupada, mas não. Talvez sobreviver fosse demasiado fácil e até certo ponto injusto, uma vez que, no fundo, foi ela a causadora e/ou a instigadora de quase todas as desaventuras. Ainda assim, e assumindo que a sua morte foi válida, ela poderia simplesmente ter sido enterrada no Cain Pit e ressuscitado, como Hilda e Agatha foram. Contudo, não dava muito jeito para encerrar a história, não é?

Outra questão ainda sobre o fim: porquê matar Nick? Eu entenderia se ele tivesse vivido a sua vida e no derradeiro final se encontrasse com Sabrina no Céu, regressando à sua versão jovem para passar a eternidade com o amor da sua vida. Agora, optar por romantizar o suicídio? Ainda por cima numa série vista por adolescentes? Não acho plausível nem justificável. Já lá vai o tempo onde levar a metade do par amoroso que sobrevive a tirar a sua vida porque não aguenta ficar sem a metade que falta não era questionado e era até aplaudido, porque ‘ah, e tal, verdadeiro amor, romance, almas gémeas, unicórnios e arco-íris’. Hoje em dia, especialmente tendo em conta toda a atenção que finalmente está a ser dada à doença mental, não é passível criar-se uma história destas. Má decisão dos guionistas.

Contudo, ainda há esperança que boas notícias nos cheguem em breve. Acontece que a série foi produzida pela Warner Bros. Television, produtora e distribuidora da Warner Bros. Entertainment, que, por sua vez, pertence à WarnerMedia onde estão incluídas a HBO e a The CW. Se um resgate está fora de hipótese? Diria que não. Inicialmente a série era suposto ter sido exibida pela The CW, portanto há todo um mar de probabilidades a favor dos fãs de Chlling Adventures of Sabina. Até lá, temos mais uma temporada de Riverdale para enfrentar, que parece ser muito mais aterradora (no sentido pejorativo mesmo) do que todos os eldritch terrors juntos. Que a paciência e a coragem vos acompanhem!

Melhor Episódio:
Chapter Twenty-Nine: The Eldritch Dark
:  Confesso que esta não foi uma decisão fácil. Entre optar pelo típico último episódio (que não merece de todo o destaque), pelo penúltimo devido à homenagem à série original ou por um dos outros, cheguei à conclusão que a escolha devia recair sobre o primeiro desta última temporada. The Eldritch Dark foi o início do fim e onde fomos apresentados ao derradeiro inimigo. The Darkness foi o primeiro terror a surgir e é de ressalvar, uma vez mais, a qualidade incrível das caracterizações. O ambiente pesado e sombrio contribuiu para ficar à beirinha do sofá na expectativa do que aconteceria com estes mineiros destinados a acabar com a luz no mundo.

Personagem de Destaque:
Ambrose Spellman (Chance Perdomo): Bem sei que mostro aqui um padrão, mas desde a 1.ª temporada que a minha personagem predileta é Ambrose. Com exceção da 2.ª temporada, onde os guionistas lhe deram uma história totalmente fora daquilo que era expectável, Ambrose sempre foi aquele ombro amigo, sábio e confidente que apoiou Sabrina e os demais durante os tempos mais difíceis. Especialmente neste última temporada, não fosse o seu vasto conhecimento, todos teriam sucumbido logo ao primeiro eldritch terror. Ambrose leva assim  para casa o prémio de personagem de destaque, não só destes últimos episódios como da série no seu todo.

Beatriz Caetano

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