Raising Dion – Review da 1.ª Temporada
| 20 Out, 2019

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[Contém spoilers!]

Para aqueles que vão ficar pelo primeiro parágrafo desta review, aqui fica o sumário: Raising Dion é daquelas séries que vai do desnecessário, ao intrigante e de volta ao desnecessário no curso de apenas alguns episódios.

Deixem-me ser sincera, o plot da série não é, à partida, nada de novo ou de especial. A série abre com um episódio que nos introduz à premissa geral: Temos uma mãe solteira que perdeu o marido num evento estranho e que se apercebe que o filho tem poderes sobrenaturais.

Ao contrário do que a Raquel David escreveu acerca deste piloto, discordo totalmente de que isto seja uma premissa original. Nunca vimos uma série a explorar a dinâmica entre pais humanos e filhos com poderes? Em que os pequenos não conseguem conter os seus poderes e os pais se vêem a lidar com isso? Heroes e The Gifted saltam-me logo à memória, por exemplo. Com um bocadinho mais de esforço chega-se a várias outras que exploram esta dinâmica.

Mas, embora tenha passado uns bons 70% do episódio piloto a achar a série mais do mesmo e convencida de que não ia passar do piloto, a verdade é que o final do episódio é intrigante. Ficamos na dúvida sobre o que é a Tempestade com forma de pessoa. Ficamos na dúvida sobre o que são as Pessoas de Chuva e porque é que o pai do Dion é uma delas. Ter Michael B. Jordan no papel de um personagem que está à partida morto desde o início, demonstra logo que ele vai ter um papel muito mais importante ao longo da temporada do que ser apenas o pai que morreu. Até aí, nenhuma novidade, mas esta curiosidade que o piloto gera de tentar perceber o que está por trás disto é o que me fez ganhar entusiasmo para ver o resto da temporada.

E bem, até mais ou menos ao penúltimo episódio, estava a gostar bastante da série. Acompanhar a descoberta dos poderes do Dion, as dificuldades da mãe entre protegê-lo, deixá-lo ter a sua liberdade de criança e coordenar um trabalho com tudo isso, o papel do padrinho Pat em ser o comic-book-based-mentor e a relação que ele tem com o Dion, a dinâmica de integração do Dion na escola, e o crescer da amizade dele com a Esperanza e também com o Jonathan (sendo que esta última ficou um pouco atabalhoada, tal como muitas outras coisas na segunda metade da série).

Onde Raising Dion falha é, na minha opinião, quando começa a tentar juntar as pontas para terminar a temporada. A tentativa que a série faz em tentar ter um final pouco previsível acaba por deitar por terra muito do que tinham construído de positivo durante os primeiros sete episódios.

A verdade é que chegamos a meio da temporada com apenas um possível mau da fita, a BIONA. Não nos é dado muito mais para achar que não vai ser por aí que a série vai entrar, com uma qualquer conspiração corporativa ou algo do género. E sinceramente, acho que, embora também não muito original em conceito, preferia que a série tivesse remado por aí, desde que com uma boa abordagem, do que ter seguido o caminho que seguiu.

Isto porquê? Porque a tentativa de imprevisibilidade tornou-se previsível muito rápido e ainda disruptiva. Passamos de ter o nice-guy Pat que adora o afilhado e está lá para ajudar Nicole com ele, para o ciumento e presunçoso Pat, que vira o mau da fita.

Acabo a série com o sentimento que esta revelação, embora com a ideia lá desde o início, foi mal pensada durante a série toda e só repescada no atabalhoamento que foram os dois episódios finais.

Ok, podem dizer-me que era de esperar que Pat também tivesse sido exposto às radiações do fenómeno da Islândia. E pelo que é revelado no último episódio, como ele estava na orla da clareira, também faz sentido que ele tenha apanhado a “doença” que está a matar a floresta. E o ele ser o mau da fita, também traz sentido a todo aquele à vontade dele em levar os dados do Mark para a BIONA – estava-me a meter confusão ele querer fazer isso quando, em teoria, seriam eles os principais suspeitos para “Vilão da Temporada”.

No entanto, depois temos a série a atrapalhar-se ao colocar dois fatores como os responsáveis pela “revolta” e revelação do Pat como vilão:

  1. O amor não correspondido que ele sente pela Nicole;
  2. O facto de ele necessitar que o Dion o cure.

O primeiro é completamente desnecessário e ainda estou sem perceber porque é que a série quis a tanto custo colocar a questão do amor não correspondido como a origem da revolta do Pat. Só baralhou as coisas e a coisa ficava muito mais bem explicada sem isso. Mas mais uma vez, parece que muitas séries sofrem do síndrome do “dramatismo romântico”, em que tem que ser sempre alguma coisa a ver com romance a despoletar os acontecimentos. Para além de que, é este fator que acaba por tornar previsível a revelação do Pat como o mau da fita, e por isso, a série acaba por falhar no seu fator de imprevisibilidade.

E o problema maior é que este fator acaba por destruir toda uma construção da ideia de amor e amizade entre o Pat e o miúdo. Às tantas, introduzem o ponto 2 em conjunto com o 1 e ficamos sem conseguir perceber como é que o Pat não matou o Dion antes de saber que ele o podia curar, porque é que não o deixou curá-lo quando ele tentou da primeira vez se depois ele estava disposto a deixá-lo morrer para se salvar? E porque é que ele queria tanto afinal os dados do Mark? Se calhar se tivessem pegado por aqui para a origem da revolta, a coisa fizesse mais sentido. Do género, ele estar à espera de encontrar respostas na investigação do Mark sobre ele e afinal não haver nada…

Se calhar só a mim é que isto não encaixa tudo, mas parece-me que há muita contradição entre a primeira e a segunda metade da série para que Pat dê um convincente vilão. Ainda estou a processar este final, mas a verdade é que chegamos aos últimos 2 episódios e as revelações parecem apressadas e insatisfatórias.

E para concluir, só numa nota mais técnica em relação às interpretações: não são perfeitas, especialmente no caso dos pequenos atores. Acho que Ja’Siah Young faz um óptimo papel como Dion, e Sammi Haney como Esperanza, mas quando temos cenas entre muitos dos miúdos que estão em papéis secundários, como no episódio da festa de anos, as más interpretações tornam-se um bocadinho cringy. Mas bem, não podemos ser muito duros com miúdos de 7 e 8 anos.

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Melhor Episódio:

Issue #107: Why So Vomity? Estive quase para não escolher um melhor episódio porque não sinto que nenhum deles tenha sobressaído em relação aos outros. Todos eles têm as suas partes boas e menos boas. Mas a escolher algum, acabo por escolher este 7.º episódio. Para além de ser o último bom episódio antes da série se atrapalhar e desiludir, é talvez o episódio com melhor ritmo com a cena do internamento do Dion, a tentativa de descobrir o que ele tem, a discussão entre a Nicole e a irmã, a revelação dos poderes do Dion à tia, e aquele impasse final com a tentativa de apagar os registos dele e o culminar final com a captura do Dion pela BIONA.

Melhor Personagem:

Esperanza Jimenez (Sammi Haney) – Peço desculpa a Dion e a todos os bons personagens da série mas, é pá, a Esperanza é qualquer coisa de magnífico e só tenho pena que a série não tenha seguido uma direção um bocadinho mais focada nos miúdos, ao estilo de Stranger Things, para que ela tenha tido mais tempo de ecrã. Ainda assim, brilhou em cada segundo do tempo de ecrã que teve, sendo uma criança super querida, forte e engraçada e que consegue não ficar definida só pela amiga com deficiência do Dion, mas por muito mais que isso. Adaptando as palavras de Cosima Niehaus em Orphan Black: “My [condition] isn’t the most interesting thing about me.”

Mélanie Costa

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