Emília e Capitães do Açúcar: conhece as novas séries da RTP

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O Séries da TV marcou presença na apresentação das duas novas séries da RTP que decorreu na Casa do Desenho, no passado dia 14 de abril. Com estreia marcada para o dia 1 de maio na RTP1, Emília e Capitães do Açúcar, ambas produzidas pela Maria & Mayer, são as novas apostas do canal público português e contam com equipas jovens, que procuram abordar temas sobretudo contemporâneos. Emília e Capitães do Açúcar serão exibidas às 22h30 e às 23h, respetivamente. Ambas as séries vão ficar disponíveis na sua totalidade na RTP Play, a partir das 12h do dia da estreia.

Emília é a nova série da realizadora Filipa Amaro, também criadora da série Frágil, produzida pelo RTP Lab e, ainda, disponível na RTP Play. Emília é sobre a ansiedade de crescer na era digital e conta a história de Emília (Beatriz Maia), uma rapariga que sonha ser a melhor bailarina do mundo, mas nunca fez nada para o concretizar porque tem medo do fracasso. Aos 25 anos, Emília começa a trabalhar na bomba de gasolina local, o que a leva a questionar-se sobre a sua vida só ser uma versão inferior do que sempre sonhou. A partir daí, debate-se entre ir a uma audição para uma companhia de dança contemporânea, onde pode ser rejeitada, e a possibilidade de  mudar a sua vida e encontrar na dança o significado que tanto procura. O elenco conta com: Catarina Rebelo, Ivo Canelas, Rita Loureiro, Igor Regalla, Margarida Serrano, Maria Emília Correia, Tiago Fernandes e João Nunes Monteiro, entre outros.

Capitães do Açúcar, realizada por Ricardo Leite, conta a história de Bernardo (Tiago Sarmento), um jovem estudante de ciências farmacêuticas que, ao ser confrontado com a possibilidade de mudar a sua precária situação financeira, decide despedir-se da hamburgueria onde trabalha e aceitar o convite de um grupo de jovens estudantes de Belas Artes para cozinhar uma nova e misteriosa substância psicotrópica chamada açúcar. Apesar do conceito da série girar à volta desta nova droga, Capitães do Açúcar é essencialmente sobre as relações que este grupo de jovens desenvolve entre si. O elenco conta com: Diana Sousa Lara, Vicente Wallenstein, Igor Regalla, Paulo Calatré, Ana Padrão, Jani Zhao, José Mata e Dinarte Branco, entre outros.

A apresentação dos projetos foi inaugurada pelo diretor de programas da RTP, José Fragoso, e pela produtora das séries, Maria João Mayer, que procuraram fazer um enquadramento acerca das mesmas e das suas oportunidades de concretização. José Fragoso revelou, inclusive, que estes foram projetos realizados com um orçamento relativamente baixo, mas em que, ainda assim, fazia todo o sentido investir, para dar oportunidade a novos criadores de explorarem novas preocupações. 

De seguida, foi exibida uma versão alargada do trailer de Emília, após o qual a realizadora e a atriz que dá vida à personagem titular subiram ao palco, visivelmente emocionadas, e falaram sobre os temas da série, nomeadamente da ansiedade que advém de viver num mundo dominado pelas redes sociais e da coragem de tentar, mesmo podendo falhar.

Finalmente, foi a vez do trailer alargado de Capitães do Açúcar, tendo subido ao palco o realizador, acompanhado pelo argumentista, Tiago Correia, e pelos atores responsáveis por interpretar os “Capitães do Açúcar”, entre os quais o autor da série, Tiago Sarmento. Aí revelaram que mais do que uma narrativa sobre drogas e vícios, esta será uma história que reflete sobre a geração millennial, vítima de crises, como a da habitação, mas que, ainda assim, encontra no açúcar que produzem uma forma de libertação, uma espécie de manifesto artístico com o qual os personagens procuram criar o seu mundo utópico, com novas formas de liberdade financeira, artística e sexual. Esta produção é sediada no Porto e, como tal, o realizador não deixou de refletir sobre a falta de apoio a projetos feitos na sua cidade, agradecendo assim a confiança depositada neste. 

Depois da apresentação, o Séries da TV (SdTV) teve a oportunidade de entrevistar os realizadores das séries, Filipa Amaro (FA) e Ricardo Leite (RL).

SdTV: O que é que motivou a série? De onde é que surgiu esta ideia e porquê esta temática?

FA: Eu gosto muito de escrever sobre identidade, acima de tudo. Interessa-me muito o que é que nos motiva a fazer coisas [pausa] esquisitas [risos]. E esta sensação de globalidade na internet faz-nos sentir, ao mesmo tempo, super pequeninos. Eu tenho uma afilhada de 12 anos que, com 8 anos, queria desistir da ginástica acrobática porque havia miúdas muito melhores do que ela, de 7 anos, portanto, um ano mais nova que ela, na Rússia. Ou seja, o nível de comparação dela agora, o círculo de comparação dela é muito maior do que o meu era. E portanto ela não consegue ser a melhor em nada, nunca. Eu conseguia ser a melhor, lá está, na minha turma, na minha rua. E essa questão fez-me muita curiosidade e então comecei a escrever. “OK, então e se uma pessoa tiver um sonho e eu não lhe puser nenhum obstáculo exterior, mas sim interior, de dúvida própria. Então depois comecei a trabalhar sobre essa temática”. Portanto, a Emília é uma rapariga que tem o sonho de ser bailarina, mas não tem coragem de tentar e que está presa a coisas que só tem de resolver consigo própria.

SdTV: Tu já fizeste a tua série Frágil, onde as protagonistas eram três mulheres. Nesta série, na Emília, a protagonista volta a ser uma rapariga. Há alguma razão para até agora todas as tuas séries serem protagonizadas por mulheres ou é inconsciente?

FA: Mulheres e homens sensíveis. Sim, aliás, nesta série, na verdade, são duas mulheres, a Emília e a Rosa, a pessoa a quem ela se compara, que depois se conhecem e ficam muito amigas e descobrem que a vida do outro lado não é nada do que achavam. Eu acho as mulheres super interessantes, somos capazes de todo um espectro de emoções de um segundo para o outro. Eu estive ali [aponta para o palco] a chorar, a perpetuar a ideia que as mulheres só choram [risos], mas não, simplesmente permitimo-nos sentir muito. A seguir subiram ao palco três homens, os autores da outra série [Capitães do Açúcar] e foi incrível, mas, realmente, eu e a Beatriz [Maia] emocionámo-nos logo. E eu acho que as mulheres… eu também sou mulher e portanto “write what you know”, escreve o que sabes, e eu tenho encontrado protagonistas mais interessantes nas mulheres.

SdTV: Para terminar, gostaríamos de saber que conselhos darias aos jovens que querem entrar nesta indústria e desenvolver projetos como os que foram aqui apresentados.

FA: Se querem escrever, serem argumentistas e realizadores: candidatar-se à RTP Lab, que tem financiamentos mais pequenos. Na minha altura eram bem mais pequenos do que são agora, ainda, portanto, ótimo. Independentemente do orçamento que tu tenhas, é sempre pouco. Mesmo na RTP1, que já não tem nada a ver [com o pouco financiamento da RTP Lab], é sempre muito pouco, mas tu teres a oportunidade de ter um público, independentemente de quanto dinheiro tenhas… Eles põem-te numa plataforma e, de repente, nós no Frágil tivemos centenas de milhares de espectadores por episódio a concorrer com os canais e isso é inevitável. Ou seja, na verdade, é tudo sobre a história. Não deixem que vos digam que precisam de atores conhecidos ou de enredos típicos porque, na verdade, eu acredito que a única razão pela qual alguém começa a ver uma série é porque alguém que tu respeitas te diz: “tens de ver esta série!”, essa é a única forma. E no mar de mediocridade que existe hoje em dia, é assim que tu te destacas, com boas histórias. E “story is free”, é a única coisa que tu podes fazer sem dinheiro, é trabalhar no guião. A única coisa, o resto é tudo caríssimo. Portanto, o que nós precisamos mesmo é de bons escritores em Portugal, desesperadamente.

SdTV: O que é que motivou a série? De onde é que surgiu esta ideia e porquê esta temática?

RL: Olha, a ideia original é do Tiago Sarmento, do ator, e ele apresentou-me a ideia já há muitos, muitos anos, e fomo-la desenvolvendo até chegar aqui. 

SdTV: Há quantos anos, mais ou menos?

RL: Entretanto não sei, mas acho que foi há quatro anos que nós começámos a falar sobre isto. Foi aí que começámos a apresentar, depois fizemos o pitch à RTP e, portanto, já foi, acho que não estou a mentir, acho que já foi há quatro anos que tivemos esta ideia. Depois, entretanto, juntou-se o Tiago Correia [argumentista] ao grupo de criadores e aí surgiu esta ideia de termos esta droga que é vendida em pacotes de açúcar, mas na verdade a série não fala em droga. Isto [Capitães de Açúcar] é sobre este conjunto de pessoas que decide criar este grupo, eles são uma família, dormem uns com os outros, são amantes uns dos outros, são namorados uns dos outros, são confidentes uns dos outros e a droga é aquilo que os une, como uma verdadeira família. 

SdTV: Já falaram, durante a apresentação, sobre alguns dos temas que a série vai tratar. Achas que podias desenvolver um bocadinho mais ou é revelar muito?

RL: Ora bem, quando a série começa eles já foram longe demais, ou seja, nós não vemos o que aconteceu para trás, nós vamo-nos apercebendo onde é que eles foram longe demais. Ou seja, eles já produziram o que não deviam ter produzido e agora já é tarde porque já têm o Raposo, que é o vilão, interpretado pelo Paulo Calatré, que já lhes está a “chagar”, “chagar” é um termo do norte, a “chagar” a cabeça porque precisam que lhes entregue a substância e o Mendes saiu do grupo e levou a receita com ele. Portanto, eles não têm como fazer [a substância]. Eles precisam de alguém que a faça e, então, já estão longe demais. A série passa-se durante, mais ou menos, oito dias, na verdade, e a um ritmo alucinante, porque eles têm que resolver este problema todo enquanto se estão a descobrir, principalmente o Bernardo, que está numa fase em que decidiu afastar-se completamente do universo de onde os pais vêm e ao juntar-se a este grupo acaba, também, por se descobrir, quem é que ele é. E esta droga, na verdade, acaba por funcionar um bocadinho assim, é como uma revelação. E isto ajuda-nos a falar de outras coisas, na verdade. 

SdTV: Para terminar, gostaríamos de saber que conselhos darias aos jovens que querem entrar nesta indústria e desenvolver projetos como os que foram aqui apresentados. 

RL: Que dicas? Eu não sinto que tenho credibilidade absolutamente nenhuma para dar dicas a ninguém, a única coisa que posso dizer é [para] continuarem a ver filmes, continuarem a ver produtos audiovisuais e serem curiosos, porque acho que é isso que nós temos de ser, é uma área em que temos de ser constantemente curiosos e é uma das coisas que gosto mais. Eu gosto muito das coisas e esta área permite-nos estudar muitas coisas e podemos imaginar tudo, na verdade. E é isso, se puder dar um conselho a alguém seria isso, mantermo-nos curiosos.

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