É bom que quem se aventure por esta série, e pelos seus episódios de 20 e poucos minutos, tenha noção do que ela pretende ser, ou é provável que fique com a ideia errada e acabe por desistir nos primeiros episódios ou… bom, não perceber, de todo, o conceito e apreciar a história e o mistério à mesma.
Em resumo, a minissérie The Woman in the House (abreviemos assim para não perder uma linha de texto de cada vez que quero dizer o nome da série) está extremamente bem conseguida. A série é uma paródia aos thrillers psicológicos e misteriosos de que o cinema vai estando cheio. Mas o que aqui é ao mesmo tempo confuso e brilhante é que é uma paródia de um humor seco e “intencionalmente não-intencional” (deadpan), que introduz o humor de forma extremamente dissuadida, só notável pela tangência com o expectável e natural dos estereótipos do género. E isto torna o exercício de ver esta série algo que, pelo menos para mim, se destacou como novo e inteligente. Isto porque estamos tão mais habituados aos exercícios simples das paródias, incluindo a este género dos thrillers psicológicos, que o são claramente com o intuito de virarem comédias, às vezes puxando o estupidamente cómico, como é o caso dos Scary Movies.
Como paródia que é, The Woman in the House vai-nos apresentando todos os elementos comuns deste tipo de thrillers psicológicos, com uma naturalidade que, não fosse o estarmos cientes do que estamos a ver, ou a perceção do quão repetidos estes temas são noutros filmes do género, poderíamos estar simplesmente a apreciar uma história normal, sem grande perceção de que estamos a assistir precisamente a uma paródia.
Entre esses elementos comuns temos Anna (Kristen Bell), a protagonista (mulher, como é típico) com um passado traumático que não é logo dado a entender para manter o mistério e que quando se desvenda traz algo que já roça o exagero (como é típico). Anna já teve uma vida de sucesso, mas esse evento traumático destruiu-a e não a deixa seguir em frente. Anna vê-se envolvida num mistério que acaba por pôr a sua vida em risco e o qual tem que desvendar e combater praticamente sozinha.
As referências e imitação sarcástica a The Woman in the Window são das mais presentes e mais diretas. Começam logo pelo título e pelo nome da protagonista, passam pela fobia de Anna que a incapacita fisicamente de sair de casa, e terminam no mistério fulcral da história: Anna testemunhar um homicídio através da sua janela de casa, mas nem ela nem a polícia acreditarem nela devido aos seus problemas mentais, de álcool e comprimidos. No entanto, devido à sua inteligência na apresentação dos elementos frustrantemente estereotípicos com a certa pitada de humor, a série torna-se aliciante de acompanhar. Não tanto para desvendarmos os mistérios, mas para ver de que modo a equipa criativa vai gozando tão subtilmente com o género, à medida que se move pelo desenrolar e desfecho da história.
Tenho que admitir que em alguns momentos do desenvolvimento (um ou dois episódios a meio da temporada) a minissérie The Woman in the House faz-nos perder um bocado essa motivação, mas o desfecho retoma em glória aquilo a que a série se propõe (só tenho pena de não termos visto mais o Rex). O final, com o seu plot twist exagerado e irrealista (como é típico), mas ainda assim inesperado, termina em cheio aquela que é uma série perfeita para uma maratona de sábado à noite.
“Bingo.”
Melhor episódio:
Episódio 8: O grande problema dos thrillers é precisamente o desfecho. Entre mistérios que se enrolam sobre eles próprios com o objetivo de confundir o espectador sobre “quem é o culpado?”, o final dos thrillers tem por hábito apresentar um brutal plot twist que ou nos mantém psicologicamente confusos, evitando os finais muito óbvios, ou muito felizes ou muito trágicos, ou é tão irrealista que arruína o filme. The Woman in the House Across the Street from the Girl in the Window consegue brincar com todos estes elementos dando um final à série em linha com aquilo a que a série se propõe. Mantendo o fator inesperado. Dado que se trata de uma minissérie, só espero que a cena do epílogo, na qual aparece a maravilhosa Glenn Close, seja também apenas parte da ironização em relação aos finais dramáticos e em aberto que muitos destes thrillers gostam de utilizar para antever uma sequela. E que não seja uma real possibilidade para uma 2.ª temporada.
Personagem de destaque:
Anna Whitaker (Kristen Bell) – Só podia ser uma e mais nenhuma. O trabalho que Kristen Bell desempenha ao longo destes oito episódios é consistente com o que já nos tem habituado. Havendo obviamente outras personagens de destaque às quais apetece dar este título, como a pequena Emma ou até o secundário Buell, a verdade é que não há como tirar o holofote de Kristen Bell.
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