Black Mirror – 04×05 – Metalhead
| 04 Jan, 2018

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(Contém Spoilers)

A Boston Dynamics é uma empresa norte-americana de engenharia robótica e, de acordo com a informação revelada por Charlie Brooker, o criador da série Black Mirror e responsável por escrever o episódio Metalhead, numa entrevista concedida à Entertainment Weekly, foi uma das invenções desta empresa que serviu de inspiração à realização deste episódio, mais concretamente a construção de cães-robô, que se tornaram virais no YouTube.

Num futuro pós-apocalíptico, um grupo de três  pessoas entra num armazém com o intuito de se apoderar de uma caixa, de conteúdo não revelado, mas quando parecia que iam alcançar o seu objetivo, um cão-robô aparentemente treinado para caçar humanos acaba por matar dois dos indivíduos logo nos instantes iniciais do episódio, lançando-se depois numa perseguição ao terceiro elemento, uma mulher (Maxine Peake) que usa todos os recursos ao seu alcance para se livrar desta perseguição.

Ao longo de todo o episódio, assistimos à demonstração de inúmeras capacidades do cão-robô nesta batalha pela sobrevivência da fugitiva.

Depois de uma longa fuga, que dura todo o episódio, a mulher consegue destruir o robô, mas acaba por ser atingida por diversos localizadores que ficam presos na sua pele, o que se revela fatal para as suas ambições, uma vez que na cena seguinte se percebe que existem muito mais cães-robô que começam a ir ao seu encalço atraídos por estes localizadores.

Isto faz com que a mulher, num dos poucos diálogos deste episódio, ligue para alguém a avisar que não vai regressar e que não tinha conseguido alcançar a caixa pela qual se tinha deslocado àquela zona, pedindo desculpa por Jack não ter aquilo que tanto queria.

O episódio acaba com a revelação do que se encontrava na caixa: tratavam-se de ursos de peluche, presumivelmente para oferecer a Jack, uma criança. Uma imagem da humanidade no meio de toda a robotização demonstrada ao longo de todo o episódio.

Metalhead destaca-se por algumas particularidades no contexto Black Mirror. Tornou-se o episódio mais curto de toda a série, sendo também o primeiro episódio a ser gravado na íntegra a preto e branco. É ainda bastante evidente o reduzido número de diálogos existente ao longo de todo episódio.

Também na entrevista concedida à Entertainment Weekly, Charlie Brooker revelou que esta última particularidade foi propositada e que ele e David Slade, que realizou o episódio, se inspiraram em All is Lost, um filme de 2013 que acompanha a história de um naufrágio de um veleiro em que o seu único tripulante (Robert Redford) faz todo o filme sem contracenar com nenhuma outra personagem e onde os diálogos são muito pontuais (um monólogo no início, um pedido de ajuda aos 20 minutos de filme e depois a palavra seguinte só é proferida quando o filme já tem mais de 1 hora).

Metalhead é, provavelmente, o episódio desta temporada que gerou opiniões mais divergentes no público. Existe quem elogie a simplicidade e quem critique que o mesmo deveria ter mais conteúdo. Existe quem aprecie o facto de não ser dado um “guião” a quem assiste o episódio com informações como o local onde se passa a ação, por que motivo chegámos àquele ponto ou qual o passo seguinte, deixando isso ao critério da imaginação de cada um, mas também existe quem se sinta perdido na história, desesperado por alguma contextualização que nunca chega a acontecer.

Na minha opinião, Metalhead deixa muito a desejar em comparação com o que nos tem sido oferecido por Black Mirror ao longo destas quatro temporadas. Desde logo, pelo tema central do episódio. Esta série tem-nos habituado a explorar toda uma panóplia de perigos relacionados com a evolução da tecnologia, muitos deles nunca antes explorados e robôs que se tornaram incontroláveis e colocam em causa a sobrevivência da raça humana é talvez o maior cliché nesta área. São inúmeros os filmes, livros ou séries que já se focaram neste tipo de ameaça.

Ainda pior do que a escolha do tema central do episódio foi o desenvolvimento do mesmo. Não existiu uma contextualização em nenhum momento do episódio. Não sabemos em que circunstâncias foram criados estes seres, qual foi o ponto de rutura, se todo o planeta foi dominado por estes seres ou apenas uma área restrita. Ficamos agarrados à fuga de uma mulher a um robô durante todo o episódio, aguardando que mais alguma coisa aconteça, algo que nunca chega a suceder.

Se pensarmos de forma objetiva naquilo que foi o episódio, chegamos à conclusão que o mesmo foi pouco mais do que 40 minutos em que um robô perseguiu uma mulher, sem que se perceba como, porquê ou em que circunstâncias.

Uma brilhante interpretação de Maxine Peake, mas que acaba por ser uma participação inglória num episódio com tão pouco conteúdo. Para mim, com o devido respeito pelos criadores deste episódio, foi indiscutivelmente o pior desta temporada e um sério candidato a pior episódio de sempre de Black Mirror. É de louvar o facto de terem arriscado num formato diferente, mas não me pareceu uma aposta ganha.

 

Diogo Reganha

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