Domina – Review da 2.ª Temporada
| 18 Set, 2023
5.7

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Esta 2.ª temporada de Domina apresenta-nos uma continuação direta em termos de estilo de exposição da história. Na 1.ª temporada de Domina vemos a queda e a ascensão de Lívia Drusilla (Kasia Smutniak) e da sua família, os Claudii, e assistimos quão longe esta está disposta a ir para se manter no topo e assim cumprir a promessa que fez ao seu falecido pai, restaurar a república. Não tendo em conta os primeiros episódios, que são mais introdutórios, grande parte da 1.ª temporada funciona, em termos de narrativa, como um procedural. Só que em vez de termos um assassínio, temos um problema que Lívia necessita de resolver; em vez de termos uma revelação no fim do episódio, temos a forma engenhosa como ela consegue sair das várias situações de aperto em que se encontra. Esta 2.ª temporada de Domina segue o mesmo caminho: um episódio vale praticamente por si só, mesmo que haja um panorama geral como pano de fundo.

Aqui reside um dos problemas desta temporada: a fórmula denota algum cansaço. Os finais são cada vez mais previsíveis e as storylines menos complexas. Quando os episódios acabam, o deslindar de cada situação não é tão satisfatório e não funciona tão bem quanto na primeira. É quando se solta finalmente deste mecanismo narrativo que Domina consegue brilhar. Os últimos três episódios da temporada focam-se mais na trama principal em vez de em problemáticas isoladas e aqui, sim, embarcamos numa bela aventura, um rol de decisões e subsequentes ramificações que nos deixam sem saber onde tudo vai acabar, que na realidade é o que é suposto uma série destas alcançar.

Outro ponto forte da série é a perspetiva feminina que oferece das lutas de poder da Roma Antiga e, nesta 2.ª temporada, estas personagens assumem ainda mais o protagonismo. É uma forma refrescante de se olhar acontecimentos históricos e finalmente dar o devido valor a esta figura real, que foi a arquiteta de uma das mais importantes e fascinantes eras da história romana e nunca pôde receber os devidos créditos devido à sua condição de mulher. Uma deixa de Lívia no episódio 8 é a perfeita ilustração desta situação. Quando confrontada por Domitius (David Avery) sobre a ideia do seu afastamento político ser dela, Lívia responde: “Isto é Roma. As mulheres não têm ideias”. Tão verdade no nosso imaginário imposto, mas ao mesmo tempo tão longe da realidade! E, claro, nem é preciso dizer, a ideia foi mesmo dela.

A série é filmada na cinecittà, onde foi filmada também Rome. No entanto, e porque aqui a comparação é inevitável, em termos de produção fica aquém. Os cenários parecem repetitivos, provavelmente porque não têm o mesmo orçamento. Também os vários incêndios que têm assolado o local não devem ajudar, mas visualmente pedia-se mais numa produção que recria o todo-poderoso império romano e a sua eterna capital. Mas Domina sofre, principalmente nesta temporada, com a qualidade da história e do diálogo, embora tenha, em momentos, coisas muito boas, assertivas e uma crítica social e histórica apurada. Infelizmente, não são a maioria. Os dois protagonistas, Lívia e Gaius (Matthew McNulty), rendiam as melhores cenas, a tensão era palpável a todos os níveis: o jogo de poder, o braço de ferro intelectual constante, mas sempre presente a paixão que os unia, no meio de tantas coisas a separá-los, independentemente das agendas ocultas de cada um. Nesta temporada aparecem como personagens mais unidimensionais, retirando essa camada ao relacionamento deles e dando-lhes muito poucas cenas juntos. Ele parece apenas um tirano sedento de poder e ela uma oportunista que se cola a ele numa tentativa desesperada de ter o poder para honrar a promessa ao pai. Nenhuma destas coisas é mentira, mas eles eram muito mais. Faltaram mais cinzentos nesta paleta de cores. Quem surge com outra cara é Tiberius (Benjamin Isaac), de longe o segundo personagem mais interessante da trama. Sempre nas sombras, sem grande poder real, mas lê o jogo como ninguém e tenta estar sempre um passo à frente de todos os outros, até da mãe. E por falar em mãe, mais alguém se arrepia quando o ouve dizer “Mother”, com aqueles olhos azuis cortantes e a cara sem expressão? Bates Motel vibe!

Em suma, esta 2.ª temporada de Domina entretém. É uma série atual, no sentido em que aborda temas históricos de relevo dando-lhes novas perspetivas e roupagens, mas no geral perdeu qualidade de uma temporada para a outra. Mostrou-se algo desinspirada sem as nuances brilhantes que, a tempos, foram alcançadas na 1.ª temporada. Contudo, ainda há esperança, pois os últimos episódios relembraram-nos o quão boa a série pode ser quando está na sua melhor forma. E com aquele feeling de que estes episódios eram o início do fim, pode ser que a série volte para terminar a história numa 3.ª temporada. Apesar de já se saber como termina, se o caminho fosse bem delineado e executado como já demonstraram conseguir fazer, seria uma viagem interessante de se terminar. Eu veria, e tu?

Melhor episódio:

Episódio 6Freedom – Este episódio é talvez dos melhores que Domina já nos trouxe. A morte de Agripa (Ben Batt) coloca todas as peças em movimento e ficamos finalmente com a sensação de que chegámos ao ponto de não retorno, que já nem a astúcia de Lívia pode parar o que se iniciou. É o princípio do fim.

Personagem de destaque:

Lívia (Kasia Smutniak) – É, sem sombra de dúvida, o motor da série. É nela, à volta dela e através dela e das linhas imaginárias que tem nas mãos que todos os outros fantoches (personagens) se mexem. Nem sempre corre bem, nem sempre se concorda, mas sem ela não havia série.

Domina ainda não foi renovada pela MGM+ para uma 3.ª temporada, mas em Portugal encontram-se as duas primeiras temporadas disponíveis no TVCINE+.

Temporada: 2
Nº Episódios: 8
5.7
6
Interpretação
6
Argumento
5
Realização
6
Banda Sonora

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