João Sem Deus, a nova minissérie de três episódios da TVI, estreou no passado dia 4 de novembro com o primeiro episódio. É uma coprodução entre a TVI e o Canal Brasil e conta com atores e atrizes dos dois países.

João Sem Deus é baseada em factos verídicos e a sua narrativa acompanha a história de duas irmãs que chegaram a Abadiânia, cidade no Estado de Góias, 17 anos antes da polémica sobre João de Deus (Marco Nanini) ser lançada. A minissérie foca-se em temas como abusos sexuais e violações que ocorreram na casa do médium, onde este se aproveitava da proximidade das fiéis.

A história arranca com as denúncias das mulheres abusadas ao longo dos anos, de entre as quais Cecília (Karine Teles), que, ao ir ao reencontro da irmã, Carmem (Bianca Comparato), que se tornou numa funcionária da casa, traz ao de cima revelações que darão o rumo à história. Cecília volta a Abadiânia acompanhada de Joana, amiga e jornalista (Ana Sofia Martins), cujo objetivo é investigar o caso que acaba de ser divulgado.

Esta não será, certamente, uma série para todos, já que aborda temas pesados e contém imagens sensíveis, com alusão à mutilação. À parte disso, João Sem Deus aponta para uma produção de qualidade, por conta das excelentes interpretações do seu elenco. Tecnicamente falando, a montagem é dos aspetos que mais me agradou, pelo modo como condiz com o clima de tensão no universo da série, intensificado pela montagem fragmentada. É como se a montagem procurasse unir os vários fragmentos de alma das vítimas, que se perdem num trauma como aquele que será retratado.

Este é um tema de enorme pertinência social, que não é de todo uma novidade para quem acompanhou a polémica dos casos de abuso na igreja católica. E, por isso, esta é uma história com uma missão social: a de alerta e de denúncia. Nesse sentido, creio que vale a pena assistir à minissérie, que é mais uma prova de que em Portugal, e com bons parceiros, se conseguem desenvolver produções de qualidade e grande potencial.