Enquanto apologista de séries nacionais, é com muita pena que admito que a série Abandonados deixa muito a desejar.

A nova série da RTP, realizada por Francisco Manso, estreou na passada quarta-feira e é baseada em eventos reais. Retrata o período durante a II Guerra Mundial no qual os japoneses invadiram Timor, na altura colónia portuguesa. Este foi um período marcado por uma forte aliança entre os portugueses, timorenses e australianos que juntos lutavam contra as atrocidades cometidas pelos militares japoneses que dizimavam a ilha. Contudo, o facto de ser território português, pouca importância teve para o então chefe de Estado português, António de Oliveira Salazar, que abandonou por completo as pessoas que sofriam na colónia.

É um novo prisma da Grande Guerra e da História de Portugal que, certamente, poucos conhecem. Contudo, a tentativa de recriar um episódio da História tão trágico como heróico foi por água abaixo, pela falta de realismo de que, pelo menos, o primeiro episódio de Abandonados é vítima.

A escrita é, igualmente, dolorosa. Os diálogos demasiado forçados e explicativos tornam as sequências longas e aborrecidas e não permitem que bons atores como Marco Delgado e António Pedro Cerdeira se destaquem na cena.

O primeiro episódio de Abandonados é pautado por uma enorme falta de ritmo. Para uma série que retrata acontecimentos de guerra, caracterizados por violência e intensidade de emoções, pouca é a tensão que se sente ao longo do episódio. Mesmo sendo este o primeiro e argumentando que essa força dramática pode vir a evoluir, parece-me uma ideia arriscada, que levará à perda de muitos espectadores.

O episódio termina sem nenhum isco dramático que aguce a curiosidade do espectador. Ao invés, parece terminar de modo repentino e com uma cena que me faz questionar o seu sentido.

É uma pena que uma série com uma história diferente e tão interessante quanto relevante, se tenha perdido no meio de cenários pobres, escrita medíocre e fraqueza dramática.

Imagem cedida pela RTP