Mad Men: podemos apreciar uma série repleta de sexismo e racismo?
| 14 Mar, 2021

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Uma descrição geral de Mad Men seria algo deste género: uma série dramática passada nos anos 60, numa agência de publicidade, onde o sexismo é o pão nosso de cada dia, o racismo está bem presente e a homofobia está à espreita. Não vos deixei com vontade de ver a série, pois não? Quem quer ver uma série que já sabe que lhe vai deixar os nervos à flor da pele sempre que uma mulher é objetificada, que lhe vai deixar constrangido quando é mencionada a N word, e lhe vai entristecer quando vir qualquer tipo de discriminação? Vou tentar explicar o porquê de Mad Men conseguir ser uma grande série, apesar de retratar tantas situações desagradáveis.

A personagem principal é Donald “Don” Draper (Jon Hamm), um publicitário brilhante e admirado por todos, mas com um sentido de moralidade bastante distorcido e claramente com problemas por resolver consigo mesmo, problemas esses que acabam por afetar a sua vida e aqueles à sua volta.

Como a série tem muitas personagens, vou apenas mencionar as mais relevantes, para além de Don: Peggy Olson (Elisabeth Moss), uma mulher forte que vai fazer de tudo para conseguir ter sucesso num mundo de homens; Betty Draper (January Jones), esposa de Don, uma dona de casa que divide os dias com os seus pensamentos e os seus filhos (Sally e Bobby), e que anseia por mais carinho por parte do marido; Roger Sterling (John Slattery), amante de bebida e de mulheres, e amigo de Don; Peter Campbell (Vincent Kartheiser), que se rói de inveja pelo sucesso do protagonista; e Joan Holloway (Christina Hendricks), responsável pelas secretárias e pela burocracia da agência, que vai dando provas de que é muito mais do que uma mulher atraente.

Mad Men mostrou-me que os anos 60 podiam ser muito bonitos e elegantes por fora, mas não o eram por dentro. Dei por mim a querer 70% dos outfits (vá, também não eram todos lindos e maravilhosos) e a apreciar aqueles carros, mas nem as mais belas roupas nem os carros mais vistosos conseguiam esconder a nuvem negra que rodeava aquela época.

Há vários pormenores que mostram a qualidade da equipa responsável por Mad Men. É notório que a banda sonora foi cuidadosamente escolhida, pois as letras das músicas parecem encaixar com o que acontece, principalmente as do fim dos episódios. A argumentação é de louvar pela sua intelectualidade e criatividade, mostradas principalmente através dos monólogos e das apresentações/campanhas de publicidade. Não podemos esquecer a qualidade do elenco e as ótimas prestações que vão sendo dadas. Também é de sublinhar o esforço por manter a série historicamente correta. Todos os acontecimentos marcantes na América dos anos 60 não só são mostrados na série, como fazem parte da história dos episódios em que sucedem tais ocorrências. As personagens emocionam-se com as tragédias e com os avanços do país, retratando o impacto que tais acontecimentos tiveram na sociedade.

A série faz-nos aperceber que há coisas na atualidade que não estão assim tão diferentes, como o sexismo, o racismo e a homofobia. Para além disso, podemos relacionarmo-nos com as ambições das personagens, tais como, por exemplo, querermos ser amados, querermos reconhecimento pelo nosso trabalho, querermos progredir na carreira e ser bem-sucedidos, descobrir o que nos faz feliz e procurarmos por essa felicidade. Talvez a beleza de Mad Men esteja aí, em mostrar-nos como a época de 1960 nos parece um pouco distante e diferente da nossa, mas consegue ser semelhante e atual em coisas tão simples como as aspirações do ser humano.

Apesar de tantas atitudes erradas, no fundo, não odiava completamente nenhuma personagem, ou melhor, os meus sentimentos variavam consoante o episódio ou a temporada. Claro que odiava mais umas personagens do que outras, mas estava mais relacionado com as atitudes de cada uma. Há personagens muito difíceis de gostar e outras que apenas cometeram um ou outro deslize, mas todos erramos, certo?

Contudo, também tenho de criticar algo na série. Para mim, houve enredos que podiam ter sido explorados de melhor forma e outros que podiam ter mais contexto. Não é como se o enredo deixasse de fazer sentido, apenas existem situações pontuais que beneficiariam de algum contexto.

Bem, não sei se vos convenci ou não, mas recomendo aos fãs de um bom drama. Mad Men mostra a complexidade, e, ao mesmo tempo, a simplicidade, de viver nos anos 60. É de valorizar pela sua precisão histórica, pelo elenco de peso que não desilude, pela variedade de assuntos abordados, e pela produção. Aos que acham que apenas se vão irritar com as personagens por causa da época que é, sugiro que vejam nem que seja para fazerem a comparação entre a década de 1960 e a atualidade. Aliás, nem tudo é triste na série, há romance, boas amizades e momentos cómicos.

Podem ver todos os episódios de Mad Men na Prime Video.

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