Originalidade precisa-se: já chega de reboots e revivals!
| 23 Fev, 2019

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Já não é de agora a impressão de que todos os anos o calendário de séries que os canais apresentam se revela uma repetição em apostas já mais do que exploradas, como policiais, séries médicas, comédias familiares ou em contexto laboral. Num mercado em que a cada ano é lançada uma infinidade de produtos novos (mesmo que reciclados) não se pode esperar que cada aposta seja uma lufada de ar fresco e diferente de tudo aquilo que já vimos, mas recentemente parece que o que reina é mesmo a falta de originalidade.

Antes de avançar, nesta discussão importa fazer uma distinção entre reboots e revivals. Ora, um reboot (um termo que está a cair um pouco em desuso por ser considerado demasiado vago e que pode ser substituído por remake) pode ser caracterizado como uma nova versão de um produto de ficção, recriando personagens e enredos, apostando num novo elenco, como Charmed. Enquanto isso, os revivals apostam mais na continuidade, pegando em personagens, locais e histórias que já conhecíamos, como Gilmore Girls fez com A Year in the Life.

Agora sim, vamos ao cerne da questão e teremos de recuar uns anos para estabelecer uma comparação acerca do aumento desta tendência repetitiva e levantar algumas questões.

Séries como Melrose Place ou Beverly Hills 90210, que marcaram a década de ’90, prolongaram o seu franchise com apostas recentes, já no século XXI. Bem, eu nasci em 1990 e não vi as originais, mas sei que o meu irmão, dez anos mais velho do que eu, teve contacto com elas. Sei ainda que ambas marcaram a geração que naquela altura estava na adolescência (tal como The O.C. ou One Tree Hill, por exemplo, fizeram com a minha). Apesar de não ter visto as originais, vi a versão de 2009 de Melrose Place (que adorei, muito graças à personagem de Katie Cassidy) e algumas temporadas de 90210, que abandonei porque comecei a achar aquilo demasiado teen e fútil para os meus gostos. Isto faz-me pensar na relevância que as novas versões de determinadas séries poderão ter para o público. Quer dizer, quem estava na adolescência numa altura já estará na fase adulta depois, portanto em princípio não será a pensar nessas pessoas que surgem os revivals ou os reboots, certo? São então para um público diferente, um que não teve contacto com a história original? [No entanto, se a nova despoleta curiosidade, acho que faria mais sentido dar uma oportunidade à antiga, mas entendo o conceito de modernização e adaptação aos nossos tempos que pretendem fazer.] Ou, pelo contrário, a aposta em algo já conhecido funciona como uma segurança para agarrar antigos fãs?

Mais ou menos entre 2007 e 2011 surgiram algumas outras séries como Bionic Woman, Hawaii Five-O, Knight Rider ou Charlie’s Angels, sendo que todas elas estão indiscutivelmente associadas a outras antigas com o mesmo nome e conceito. Só que aqui há uma diferença: todas elas são séries que remontam aos anos 60, 70 e 80, e que por isso criam uma diferença de cerca de 30 anos em relação às novas apostas. Acho que esta separação temporal tão grande faz com que as versões recentes sejam mais… não sei, aceitáveis e relevantes. No entanto, destas quatro mencionadas, apenas Hawaii Five-O fez sucesso, continuando no ar. As outras três não foram para além da 1.ª temporada. Confesso que não fiz uma pesquisa muito exaustiva e estou certa de que por esta altura terão havido outros revivals e reboots, mas chegados a 2019 acho que se criou um verdadeiro exagero.

Se olharmos para a atual lista de séries da CBS, por exemplo, temos lá Hawaii Five-O, MacGyver, Magnum P.I., Murphy Brown e S.W.A.T.. Nenhuma destas é material original. Se quisermos ser picuinhas podemos ainda falar de Elementary, que pega numa das personagens mais conhecidas da literatura, ou mencionar que Young Sheldon, NCIS: Los Angeles e NCIS: New Orleans são todas spin-offs de outras apostas do canal. Conclusão, um terço da programação da CBS tem como base outros produtos já conhecidos do mundo das séries. Parece-me excessivo!

Se passarmos para um contexto geral dos últimos anos ou avaliarmos as notícias dos últimos meses, aí sim percebe-se o tal aumento desta tendência da reciclagem de séries de que já falei. Roseanne/The Conners, Charmed, Roswell, New Mexico, The Flash, Dynasty, Will & Grace, Fuller House, Chilling Adventures of Sabrina, One Day at a Time ou Wentworth são todas séries atualmente em exibição que já tinham existido, sob alguma forma. Muito recentemente também tivemos outras, como Nikita, Battlestar Galactica, Dallas, 24: Live Another Day, Prison Break, Gilmore Girls, Twin Peaks, The X-Files, V ou Heroes Reborn, que também renasceram, e outras que se avizinham: Veronica Mars, Party of Five, The L-Word ou The Twilight Zone. Muita coisa!

O que me levou a escrever esta crónica foi uma conversa com uma amiga, que partilhou comigo a possibilidade de vir aí um reboot de Gossip Girl, uma das séries preferidas dela. É compreensível então que tenha ficado satisfeita com esta perspetiva, mas eu respondi-lhe algo como: “viva a falta de originalidade”. Ela concordou, mas frisando que era precisa futilidade nas séries. O meu troco: “Inventem futilidade nova”. Acho que é legítimo. Não se trata de ser Gossip Girl (que acompanhei, mas da qual nunca fui uma verdadeira fã) ou outra série qualquer específica, mas da quantidade de séries novas que surgem, mas que estão longe de ser realmente ‘novas’.

O regresso de Prison Break, por exemplo, foi um dos maiores falhanços de sempre. Nunca devia ter existido, porque veio manchar a reputação de uma série que foi brutal. Por outro lado, posso ter adorado The L-Word da primeira vez (e basicamente achado insuportável à segunda visualização), mas não estou interessada em voltar a esta história e mesmo que viesse aí One Tree Hill novamente, eu torceria o nariz até quase o partir. Neste último caso porque não se deve mexer naquilo que é perfeito para o caso de se vir a estragar.

Juntando a tudo isto spin-offs, mais séries que exploram universos que já conhecemos do cinema ou outras que são versões de originais de outros países, diminui exponencialmente a sensação de criatividade num mundo em que a característica da originalidade devia ser algo a aspirar. É claro que quase tudo no mundo tem inspiração em algo que já existe porque nenhum de nós é uma tábua rasa e todos somos influenciados por aquilo que ouvimos e lemos, pelas pessoas com quem nos cruzámos e o contexto em que estamos inseridos, mas há que saber diferenciar inspiração e cópia. Espero que esta moda dos reboots e dos revivals acabe rapidamente ou pelo menos que abrande. Se não abrandar, ao menos que sejam capazes de pegar em produtos que o público já conhece de forma relevante. Trazendo alguma espécie de diferenciação, como a discussão de temas da atualidade, por exemplo, de uma forma capaz de nos ensinar alguma coisa enquanto pessoas.

Partilham da opinião de que é precisa mais originalidade ou acham que o panorama não é assim tão exagerado como eu o vejo?

Diana Sampaio

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