13 Reasons Why: não sejas uma das razões
| 28 Out, 2017

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Olá! O meu nome é… Sabem que mais? O meu nome não interessa. O que interessa é o que vos vou contar. E o que é isso? Simples. Eu vou-vos contar a história de como uma série afetou a minha vida. Qual série? 13 Reasons Why. Oh, que cliché, eu sei! Mas não se preocupem, quando lerem isto eu ainda estarei viva e provavelmente a escrever uma nova crónica.

A primeira vez que ouvi falar desta série revirei os olhos e pensei: mais uma representação ridícula de pessoas depressivas e do suicídio. Adiei e adiei e continuei a adiar até que a curiosidade me venceu e a falta de séries novas para assistir acabou por esmagar o meu medo e decidi arriscar. E não consegui parar.

Na minha opinião, o grande problema de séries que envolvam depressão e suicídio é a forma como representam o doente – sim, por incrível que pareça, a depressão é uma doença real e não uma fantasia fabricada por Hollywood. A personagem é descrita como alguém triste, cabisbaixo, com poucos cuidados de higiene e afastada do mundo.

Querem saber uma novidade? A depressão é tratada como uma doença silenciosa porque ela é mesmo silenciosa. Isso mesmo, a pessoa que está sentada ao teu lado pode estar depressiva e tu nem isso imaginas. As pessoas não andam propriamente com um sinal no pescoço a informar do problema que têm.

Hannah Baker era uma rapariga alegre, sociável e bonita e, mesmo com tudo o que sofreu, manteve-se assim até ao último minuto. Nunca, em treze episódios, Hannah se fechou no quarto durante semanas, sem lavar e pentear o cabelo, sem trocar de roupas, rodeada de lenços de papel. Hannah Baker levantou-se e continuou a sua vida, independentemente de tudo o que lhe aconteceu e o seu sofrimento.

As diversas situações pelas quais Hannah passou, ignorando a violação que por si só era o suficiente para fazer alguém perder a cabeça, são na verdade suficientes para arruinar a vida a qualquer adolescente. Pode parecer dramático, mas a vida de um jovem praticamente gira à volta da parte social. É aquela altura da nossa vida em que nos definimos como indivíduos e percebemos qual o lugar e postura que queremos assumir na sociedade. É como um treino para a vida adulta, só que em modo difícil. Na verdade, quando chegamos a adultos as preocupações são tantas (casa, carro, trabalho, filhos, contas, etc.) que a vida social fica para segundo plano.

Se já há uns anos atrás, no meu tempo de secundário, era difícil lidar com a pressão e os rumores, imagino hoje em dia quando existem smartphones, internet e redes sociais. Hoje em dia, uma foto tirada no lugar errado na hora errada e na perspetiva errada pode arruinar a nossa vida completamente. Ou pelo menos fazê-la difícil nos anos que se seguem. Andar nos corredores, ouvir as pessoas murmurar, ser assediada e saber que somos inocentes. Ver os nossos amigos a afastarem-se porque acreditaram mais em outros do que em nós, tentar fazer a coisa correta e acabar espezinhado. Tudo isto são momentos terríveis, agonizantes. A dor de saber que estamos sozinhos ofusca tudo à nossa volta.

13 Reasons Why é a série de que esta geração precisa. Arranjem espaço entre José Saramago e Camões, façam o livro leitura obrigatória, criem aulas dedicadas ao civismo e façam os jovens assistir a esta série. Os adolescentes precisam de saber que apontar o dedo, rir, murmurar, partilhar, julgar, pode destruir a vida de alguém. Pode levá-las ao fundo de um poço escuro onde desistem de procurar uma saída e se resignam à morte, pois a dor é demasiado sufocante para continuar a viver. Eu sei o que isso é. Eu estive no fundo desse poço. Eu senti-me sem ar. Eu desisti de procurar a saída. Eu fui Hannah Baker.

Até que um dia alguém espreitou para o poço, me viu derrotada e atirou uma corda. Eu não agarrei a corda no primeiro dia, nem no segundo, nem mesmo no terceiro. Mas um dia, estendi a mão e comecei a subir, a subir e a subir até que saí e me aqueci ao sol. Contudo, por muito que agora continue cá fora, aquele poço está ali ao meu lado e uns dias, mais do que outros, a tentação de saltar novamente é forte.

O ciberbullying é real. A depressão é real. O suicídio não é um capricho, não é uma atitude mimada, é a ação de alguém que não vê uma solução. Por isso lutemos. Lutemos para que esta doença seja reconhecida, para que seja tratada como um problema, para que as pessoas que padecem dela encontrem ajuda mesmo quando não a procuram. Lutemos pelas Hannahs deste mundo. Sejam justos e compreensivos. Tenham compaixão e consciência.

Não sejam uma das treze razões.

B.C.

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