[Não contém spoilers]

Se cruzarmos Black Mirror e The Office, certamente iremos tropeçar em Severance: a Apple TV+ acertou em cheio logo no primeiro episódio, Good News About Hell, quer seja pelo luxuoso elenco ou pela cinematografia, que nos leva a entrar em todo aquele enredo intrigante.

O plot parece simples: Mark (Adam Scott) é um dos funcionários da Lumen Industries e, nesta empresa, os trabalhadores veem-se obrigados a ser submetidos a uma cirurgia de separação de memórias chamada severance. Dessa forma, durante o horário de trabalho, os empregados não têm memória sobre o que se passa em casa e quando estão em casa não se lembram de nada do que fizeram no escritório.

Neste primeiro episódio, quase exclusivamente introdutório, no qual conhecemos as personagens principais e procedimentos da empresa, saltam-nos logo várias perguntas: será possível contornar o sistema? Será que a empresa adotou este sistema meramente com o objetivo de aumentar a produtividade? O que faz a empresa de tão secreto para não deixar sair os seus trabalhadores com memórias sobre o trabalho? Com o final enigmático deste primeiro episódio podemos já prever um desenrolar de ações inesperado e surpreendente!

Um outro ponto interessante tem a ver com o set, os adereços utilizados e o ambiente em que se passa a série: os computadores são antigos, conseguimos ver nos ecrãs apenas alguns bits, toda a tecnologia disponibilizada aos trabalhadores é básica e antiquada, mas ao mesmo tempo existem câmaras de vigilância minúsculas, reuniões remotas e uma tecnologia de ponta capaz de dividir memórias no momento em que o funcionário entra no elevador da empresa. Toda esta confusão deixou-me intrigado e inquieto por não conseguir colocar esta série numa linha temporal, dando quase a sensação de estarmos a ver uma realidade paralela controlada por alguém.

Toda a premissa de saber quem está a jogar este The Sims humano deixa qualquer entusiasta de ficção científica e mistério colado ao ecrã e a salivar por mais um episódio.

Miguel Mendonça