Clarice – 01×01 – The Silence is Over
| 15 Fev, 2021

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[Não contém spoilers]

No ano em que The Silence of the Lambs (O Silêncio dos Inocentes) faz 30 anos desde a estreia, chega-nos, através da CBS, uma série, Clarice, centrada em Clarice Starling, contando a história do percurso dela após os eventos decorridos no filme e do seu encontro com Hannibal. Mas será que não se trata de mais uma série policial, glorificada por umas referências a um clássico do cinema?

Clarice, interpretada por Rebecca Breeds, está claramente transtornada pelo seu encontro com o inigualável Hannibal Lecter e pelos eventos que daí decorreram, tanto que assistimos a uma consulta com o psiquiatra do FBI, que a está a avaliar. Antes desta consulta poder terminar, Clarice é interrompida porque estão a precisar dela para uma task force especial. Aqui surge a primeira coisa que me incomoda no enredo, é tudo um pouco caído do céu. Porque é que precisavam de Clarice, mas apenas para dizer que era um assassino em série? Que sentido é que isso faz? Convocam-na apenas para a ostracizar? Creio que o efeito era termos pena e simpatizar com a personagem, mas aí podiam ter organizado apenas o regresso dela à equipa de origem, onde os colegas tinham inveja da atenção dos media dedicada a Clarice. Pareceu-me forçado.

Ao longo do episódio, vamos descobrindo dados sobre uma série de homicídios e vemos uma jovem Clarice a navegar contra a corrente da polícia e a criar uma relação com Tomas, um outro polícia que a ajuda. Fica também a nota para uma conversa entre ela e uma das poucas raparigas que sobreviveu no filme, mas creio que tudo o que vamos ter alusivo ao filme são mesmo estas conversas e as imagens e flashes que Clarice vai tendo. É muito pouco provável que vejamos Hannibal por uma questão de direitos autorais sobre a personagem. Estes não pertencem à CBS, mas sim à NBC, e de resto este parece apenas mais um policial banal. Numa altura em que este género já perdeu o seu poder e efeito, Clarice não parece ter a componente mental e mística alusiva à obra de Thomas Harris. Faltam aqueles jogos psicológicos dos quais Hannibal estava recheada.

A personagem de Clarice até está interessante, a fragilidade apresentada, os constantes pesadelos e inseguranças. Para mim foi o único ponto bom do episódio, mas ainda não descartei completamente a hipótese de ver mais um ou dois episódios, numa espécie de tira-teimas, mas não vou ver com muita pressa, nem com grande prioridade na lista de visualização. Infelizmente acho que é uma tentativa de navegar no sucesso de uma obra-prima. Mas quem sabe? Se calhar estou enganado e vem aí uma boa série. Não seria a primeira vez e de certo que seria um erro agradável.

E tu, gostaste? Achas que esta aposta da CBS em Clarice foi boa ou nem por isso?

Raul Araújo

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