[Contém spoilers]
Seria de esperar que, após os acontecimentos de 1-800-799-7233, Grey’s Anatomy nos trouxesse um episódio um pouco mais leve para o contrabalançar. Ora, se há algo que se pode dizer sobre Personal Jesus é que este de leve não teve nada, antes pelo contrário. Personal Jesus é capaz de ter sido um dos episódios mais pesados desta 14.ª temporada, pelo menos até agora.
Para além de dar continuação à história de Jo e Paul, Personal Jesus aborda ainda duas outras temáticas bastante interessantes. A primeira trata-se da brutalidade policial e discriminação racial, tema que é abordado através de Eric Sterling (Kai Chamar Williams), um jovem afro-americano que foi alvejado pela polícia ao tentar entrar na sua própria casa. A segunda trata-se da relação de April com a sua religião, algo que, apesar de ter sido bastante falado quando nos foi apresentada enquanto personagem, parece ter sido esquecido pelos escritores da série.
Uma vez que temos que começar por algum lado, falemos um pouco sobre Jo, Paul, Jenny e toda esta situação. Como mencionei anteriormente, acho que Grey’s tem tratado a temática da violência doméstica de forma respeitável e mantenho essa opinião. Quando vi o vídeo promocional para este episódio, no final de 1-800-799-7233, não me contive e comecei a pensar sobre quem teria atropelado Paul e as implicações de tudo isso para o futuro da série e das nossas personagens. Felizmente, foi apenas um (in)feliz acidente do qual Jo e Jenny não foram culpadas, pelo que não haverá consequências para estas personagens. Devo dizer, no entanto, que o desfecho desta narrativa me deixou com um travo amargo na boca. Apesar de acreditar que Paul teve exatamente o que merecia, acho que a sua morte foi algo demasiado expectável e pouco satisfatório. Pessoalmente, preferia que Paul tivesse sido preso.
Presos, também, deviam ser os polícias que alvejaram o pobre Eric que, à semelhança de (quase) todos os pacientes deste episódio, acabou por falecer. Acredito que Grey’s fez um excelente trabalho ao abordar este tema e ao mostrar a assustadora realidade que a população afro-americana enfrenta no seu dia a dia. Achei particularmente tocante a cena entre Bailey, Ben e Tucker, na qual Ben e Miranda explicam a Tucker o que fazer se for parado pela polícia para que nada lhe aconteça. Infelizmente, sei que isto é algo que acontece na vida real e acho relevante que seja um tópico falado na televisão – não necessariamente para o nosso país, mas temos que perceber que são cenários completamente diferentes.
Como se a morte destas duas personagens não fosse o suficiente, houve ainda outra fatalidade neste episódio de Grey’s Anatomy e ainda o regresso de uma personagem do passado de April. Matthew (Justin Bruening), ex-noivo de April, regressou aos nossos ecrãs como marido de Karin, que acabou por falecer após o nascimento da sua filha, Ruby. Todos estes acontecimentos acabam por fazer com que April comece a questionar a sua fé, chegando a médica a perguntar-se se vale a pena seguir a Deus, que parece não fazer nada em relação ao sofrimento dos homens. Acho que, tendo em conta a profissão de April, esta pergunta iria vir ao de cima eventualmente e acredito que esta foi a altura certa para a colocar. Tenho curiosidade em ver onde Grey’s levará esta história e qual será o seu desfecho.
Sem querer “spoilar” o próximo episódio, acabo esta review com a seguinte questão: o que acharam da promo de (Don’t Fear) The Reaper?
Inês Salvado