A experiência de ver este primeiro episódio de The Chi é difícil de transmitir numa review. Se eu falar da história vão provavelmente achar que já viram algo parecido, as personagens vivem vidas normais (ou quase) e a realização é difícil de descrever por palavras. A verdadeira experiência está mesmo quando vemos estes três elementos em conjunto!

Este episódio conseguiu cativar-me desde o primeiro momento com as imagens do Southside de Chicago, acompanhadas por uma banda sonora de Chance the Rapper, uma brilhante introdução às histórias destas personagens. Diria mesmo que Chicago é a verdadeira personagem principal da série, já que é o sítio e a cultura que liga todas as diferentes histórias e personagens.

É usado o formato onde são apresentadas várias personagens que aparentemente não têm nada em comum, mas que acabam por se conectar. Aliás, eu prefiro não escrever muitos spoilers aqui porque grande parte da experiência é ir ligando os pontos e ficar surpreendido pelas interações entre personagens distintas.

Temos assim a história de Coogie, um rapaz que se aventura pela parte perigosa do bairro para alimentar um cão e acaba por descobrir o corpo de um rapaz, vítima de um tiroteio, numa poça de sangue no chão. Coogie acaba por tomar a decisão errada ao roubar um medalhão e umas sapatilhas ao rapaz morto, em vez de fugir daquele lugar o mais rápido possível. Este primeiro momento é uma bola de neve, com consequências graves para o resto do episódio.

Temos a história de Jason, irmão mais velho de Coogie, que trabalha na cozinha de um restaurante numa zona rica da cidade e espera em breve conseguir tornar-se um verdadeiro chef e abrir o seu próprio restaurante, juntamente com a namorada. É uma personagem tão alegre e cativante que não conseguimos deixar de torcer por ele desde o início!

Chegamos assim à história de Kevin, um miúdo do ensino básico que faz uma audição para o musical da escola para impressionar uma rapariga. Mais uma vez, não conseguimos deixar de torcer para que consiga, principalmente pelo seu medo do palco. Há ainda mais conexões como a história da irmã de Kevin, Keisha, que namora com Emmett, que por sinal acaba de descobrir que é pai, fruto de uma ex-relação. E há ainda a história de Ronnie e Tracy e do seu sofrimento por terem perdido o filho.

Devem estar a pensar que isto são histórias e personagens a mais para um só episódio, mas surpreendentemente não! A forma como as histórias de cada personagem e as suas conexões a outras foram escritas fazem com que não se torne confuso. Em vez disso, temos uma história muito humana, de várias pessoas diferentes que me cativaram desde o início por serem reais. Não há as típicos boas e más personagens, mas sim personagens com bons e maus momentos, que é afinal o que os torna humanos.

The Chi surpreendeu-me imenso pela sua fantástica cinematografia e banda sonora, mas mais que tudo pelas suas personagens. O facto de eu ter chorado no final de um episódio piloto é raro e representa bem o carácter especial e extremamente comovente desta série. Só espero que a qualidade não diminua, porque tem potencial para se tornar das minhas séries favoritas. Se gostam de séries emotivas e com uma representatividade negra muito importante na TV, aconselho imenso que vejam este episódio!

Ana Oliveira