Um desabafo sobre o cabo em Portugal
| 04 Mai, 2020

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Muitos escrevem no seu diário ou na sua agenda os seus medos e os seus desabafos. Eu como gosto de escrever, partilho-os aqui. Não é assim tão pessoal e acho que podem ser várias as pessoas que se identifiquem com o que digo. Depois de ter desabafado sobre o streaming e o consumo compulsivo de séries, falo-te hoje sobre os canais de cabo em Portugal.

E porquê? Bem, não há uma razão assim muito óbvia. Quando comecei a ver séries, iniciei-me através dos canais por cabo em Portugal. Na verdade, não tinha grande opção. Ou era por essa via ou por pirataria. Optei pela primeira (optem sempre por meios legais!).

Em Portugal, temos vários canais dedicados a séries, desde a FOX, passando pelo AXN ou mesmo pela RTP2, que passa séries europeias em horário nobre. Eles trazem-nos muitas das nossas séries preferidas, tirando aquelas que agora vemos através dos nossos serviços de streaming favoritos.

Mas e então porque decidi falar da TV cabo hoje? Primeiro, porque acho que precisa de sofrer algumas alterações, diria profundas. As séries, com raras exceções, das quais destaco Homeland (Segurança Nacional em português), chegam bastante atrasadas a Portugal e o mercado televisivo hoje já não suporta isso. Eu percebo que exista a questão dos direitos de transmissão, mas muitas vezes parece-me mais uma desculpa do que outra coisa.

Os canais por cabo enfrentam concorrência de dois lados. Por um lado, o streaming alterou a maneira de produzir e ver séries, lançando-as todas de uma vez, no caso da Netflix, ou simplesmente disponibilizando todas as temporadas num só local, no caso da HBO. Por outro, existe a pirataria, cada vez mais completa e fácil de aceder.

Se fores como eu, que vê imensas séries, torna-se complicado não te perderes no meio de tudo. Logo, se existe a possibilidade de acompanhar uma série semanalmente no momento em que sai, claramente vou optar por esta escolha. Não quero esperar vários meses para que esteja disponível em Portugal, visto que nessa altura já estarei com novas séries para ver e o círculo repete-se. Para mim, é melhor não acumular porque, se não, já sei que não vou ter tempo de ver tudo.

Voltando aos exemplos de produções atuais. Séries de comédia como Brooklyn Nine-Nine demoram bastante a chegar a Portugal. Eu sei que está relacionado com a questão dos direitos, mas mesmo a chegar aos canais TVCine, que têm a transmissão exclusiva, demora algum tempo. Já tinham saído pelo menos sete episódios da última temporada, quando ficou finalmente disponível em antena portuguesa. Pode parecer um exagero, mas não é. Nem falo de que quando chega à FOX Comedy já acabou (ou está quase) nos Estados Unidos. Nessa altura, mais vale esperar que esteja disponível na Netflix, visto que não faltará muito, de certeza.

Não sou apologista de ter que ver a série exatamente na hora em que sai, sobretudo se isso acontecer de madrugada, como acontecia com muitos fãs de Game of Thrones, que não aguentavam nem umas horas. Em dias de episódio evitava ao máximo ir ao Twitter, visto que sabia que já estaria cheio de spoilers. Por mais que goste de Game of Thrones não entendo que não se aguente até ao dia seguinte para ver o episódio. Ainda assim, é um bom exemplo de dedicação a séries em Portugal.

Qual seria, então, a solução? Não há soluções perfeitas, mas o caso de Homeland ou The Walking Dead parecem-me uma boa opção. Uma série não precisa de ser exibida em Portugal necessariamente no mesmo dia que nos Estados Unidos da América, mas mais do que uma ou duas semanas é, diria, demasiado tempo para o mercado televisivo atual.

Numa altura em que cada vez mais pessoas recorrem ao streaming, sobretudo à Netflix e à HBO, em Portugal (só em abril foram mais de 800 mil portugueses que confirmaram ter uma assinatura de, pelo menos, um serviço), os canais de cabo têm de se adaptar. São tantas as novidades mensais nestes serviços que não há sequer tempo para acompanhar tudo. Só em maio estes dois serviços apresentam mais do que seis grandes estreias, como podes ver nos nossos destaques do mês.

Se os canais de cabo querem fazer face à concorrência forte, têm de reavaliar toda esta situação e, se possível, os contratos de transmissão. Eu gostava muito de acompanhar lá as minhas séries semanais dos canais de cabo norte-americanos, mas torna-se complicado por demorarem tanto a chegar cá.

Diogo Alvo

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