Da infância à idade adulta: uma vida passada a ver séries
| 07 Dez, 2019

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As crianças agora crescem agarradas aos tablets e aos telemóveis, mas nos anos 90, os únicos ecrãs aos quais, no geral, tínhamos a hipótese de nos colarmos era aos dos Game Boy (porque raio é que tinha este nome? havia imensas raparigas, como eu, que gostavam de jogar!) ou da televisão.

Como uma miúda que gostava de estar entre livros, Barbies e os velhos Playmobil do meu irmão, o meu tempo de brincadeiras era sobretudo passado em casa, dividido entre os brinquedos e a televisão. A maioria dos miúdos que eu conhecia via sobretudo desenhados animados, mas com um irmão dez anos mais velho do que eu, havia muito mais do que ‘bonecos’ a passar na televisão lá de casa. De certeza que era eu que punha o meu irmão a ver Doraemon; quanto ao Dragon Ball, provavelmente foi ele que me viciou numa altura em que não havia ninguém que não visse aquilo; mas às séries foi ele que me apresentou. Algumas, como Dawson’s Creek ou Kommissar Rex, eram minhas, não foi por causa dele que comecei a ver, mas a maioria das séries que preencheram a minha infância foram influência do irmão crescido.

Víamos coisas que não eram para a minha idade, tal como jogávamos no computador coisas violentas, mas não tinha medo, soube distinguir desde cedo que aquilo que estava a ver era a fingir e que na vida real as coisas eram diferentes. Via violência no ecrã, via adolescentes com idade para fazer coisas que ainda me pareciam muito distantes e nunca tentei imitar nada. Por isso mesmo me faz confusão que haja pessoas que culpam o que passa na televisão ou os jogos de vídeo por certos comportamentos que as pessoas têm. Moving on… Agora os pacotes televisivos oferecem centenas de canais, mas quando se faz zapping chega-se à conclusão que só uma dúzia (e isto se estivermos a ser generosos) é que dão alguma coisa de jeito. Dantes só havia quatro canais e, ainda assim, não havia muito de que nos queixarmos, porque a televisão não nos bombardeava com aqueles programas de festas em que vão às terrinhas e dava coisas como Marés Vivas – ou Baywatch, se preferirem – nas tardes de verão para entreter a canalha que estava de férias. Eu achava piada aos cenários, aos resgates no mar, o meu irmão estava mais interessado nos atributos de Pamela Anderson e Carmen Electra.

Na altura não havia TV Cabo, por isso víamos sobretudo as séries da RTP2, várias sitcoms das quais nem me lembro do nome, mas que, se não estou em erro, davam ao sábado ou ao domingo à noite, perto da hora de ir para a cama e outras que davam durante a semana, acho que logo a seguir ao jantar, e mais adequadas para ver em família, como 3rd Rock From the Sun, Yes, Dear, Green Acres ou Friends.

Numa altura em que já devia estar perto da adolescência – ou até mesmo lá – começaram a surgir novos canais, como a SIC Gold e a SIC Radical, que passavam séries que me tinham sido apresentadas pelo meu irmão quando era pequena e nas quais me viciei quando já tinha mais alguns anitos, como Family Ties. Era sempre a adiar a hora de ir estudar por causa das maratonas que davam ao fim de semana de manhã da série protagonizada por Michael J. Fox. Cheers e Seinfeld, especialmente esta última, tinham piadas não muito engraçadas para uma miúda, se bem que a primeira se redimia para mim pelas personagens de Kirstie Alley e Shelley Long, mas vi inúmeros episódios e, à medida que as temporadas avançavam, era engraçado reconhecer atores então poucos conhecidos e que entretanto tinham atingido grande sucesso.

Depois acho que passei eu a ser a grande fã de séries e quando já estava no liceu retomei, por minha conta, com entusiasmo reposições e/ou novas temporadas de coisas que via em criança e das quais já não me lembrava muito bem, mas das quais tinha excelentes recordações, como ER ou The Pretender. Depois, novas séries como Gossip Girl ou The O.C. e as comédias familiares, como According To Jim, que passavam nos canais da FOX também nos colavam ao ecrã em tardes e noites sem muito para fazer. Gossip Girl era um hábito e não uma série da qual alguma vez tenha sido especialmente fã. Já a expectativa por cada novo episódio de The O.C. era bastante. Acho que me costumava referir às quartas como o ponto alto da semana, à conta da série.

Nos últimos anos, não só passei eu a ser a grande viciada como também a especialista em séries, por isso era sobretudo eu a fazer recomendações. A última que o meu irmão me aconselhou foi The Walking Dead e na altura adorei a série. Tanto que passei a ver os episódios assim que saíam e depois, quando um ou dois dias depois, passava na televisão, sentava-me com o meu irmão e via outra vez. Ele nunca compreendeu a necessidade que eu tinha de ver logo para evitar os spoilers e gostava de esperar pela emissão na tv. Depois TWD tornou-se uma seca, deixei de ver e acho que ele ainda se aguentou durante mais um bocado sem mim, mas o meu irmão tem uma certa tendência para desistir das séries que vê sozinho e a última baixa foi Shameless US, depois de eu me ter cansado muito tempo antes. Agora, a única que vemos juntos é The Goldbergs, a série que retrata o período em que ele cresceu e que quase me deixa com inveja de ter nascido na década de 90. Mas só quase, porque os anos 90 trouxeram coisas top como Will & Grace e as Spice Girls.

Bem, eu continuo a ser uma seriólica que anda sempre à procura de alguma coisa nova, embora veja um número muito reduzido de cada vez, mas o meu historial começou na infância, quando seria esperado que perdesse mais tempo a ver os Rugrats do que Riscos.

Diana Sampaio

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