O Cancro da Longevidade das Séries: o Caso Criminal Minds
| 03 Set, 2016

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Criminal Minds, ou Mentes Criminosas, como é conhecida cá em terras lusitanas, caminha este ano para a sua 12.ª temporada.

São já 12 anos a fazer temporadas de mais de 22 episódios, o que soma já mais de 250. Não é a primeira, nem há-de ser a última série do seu género a alcançar, e ultrapassar, tamanho número de temporadas e episódios – outros exemplos são Law & Order, NCIS, CSI, e respetivos spin-offs.

A receita para o sucesso destas veteranas prende-se, em primeiro lugar, com o facto de serem “séries de casos”; em segundo, com o serem policiais – provavelmente o mais popular género televisivo. Sendo séries policiais de casos, os chamados procedurals, onde cada episódio conta e desvenda uma história que pode ser isolada do contexto global da série, tornam-se produtos de assimilação rápida pelas massas (audiências). É uma fórmula simples e eficaz para os canais televisivos, especialmente para os generalistas.

Contudo, a receita para o sucesso destas séries passa por outro ingrediente fundamental, que prende aquela fração das “massas” que se torna assídua e regular – os fãs. Estamos a falar do elenco principal da série e das histórias de cada um dos elementos e das suas interações uns com os outros.

No caso de Criminal Minds, os fãs são uma fração bastante considerável das audiências. E Criminal Minds consegue-a não só devido à escrita original dos episódios e dos casos que são apresentados de criminosos e assassinos em série, mas especialmente devido ao núcleo de protagonistas, à equipa que constitui o elenco principal da série.

Aquilo que as audiências soltas, as massas, menos apreciam nos episódios que vêm, também eles soltos – o desenvolvimento singelo das histórias de fundo deste núcleo de personagens ao longo dos episódios – é o que prende os fãs.

Posto isto, vamos avançar para o problema que aqui queremos discutir: o problema que afeta as séries que se prolongam por anos e anos a fio – o Cancro da Longevidade das séries.

Sintomas: Desintegração do núcleo de personagens principais, com a saída de um ou vários elementos ao longo das temporadas.

Tratamento: Tira e põe de novos atores/personagens para colmatar as saídas.

Cura: Não existe. Raras vezes os novos personagens são realmente efetivos na substituição do membro original, causando sempre alguma taxa de rejeição pelo corpo (os fãs). Vão sendo tolerados até que, ou são eventualmente aceites, ou voltam a sair da série.

Resultado: Inevitável perda de identidade da série que, por sua vez, ou culmina no seu fim ou, com sorte, numa mudança da base de fãs que, tal como os personagens, já não é a original, mas que vai mantendo as audiências vivas e a série a arrastar-se em muletas.

Estamos a falar de Criminal Minds, mas do mesmo modo poderíamos estar a falar de Grey’s Anatomy, outra que sofre do mesmo mal, e aí então a analogia do cancro seria ainda mais bem empregue.

A desintegração do núcleo de personagens principais é inevitável em qualquer série que se prolongue por muitas temporadas. Pode acontecer mais cedo ou mais tarde no ciclo de vida de uma série, mas acontecerá e com ela vai-se perdendo a identidade da série.

Desde nova que Criminal Minds começou a sofrer alterações no elenco principal. Logo na 2.ª temporada viu sair Lola Glaudini (Elle Greenaway), entrando Paget Brewster (Emily Prentiss) para o seu lugar. No entanto, a alteração aqui não teve grandes efeitos negativos visto que a Agente Greenaway não foi das mais fulcrais nem populares durante a temporada de arranque da série e Emily Prentiss rapidamente conquistou o seu lugar.

O golpe do ano seguinte foi bem mais fundo. Na 3.ª temporada, Criminal Minds viu sair Mandy Patinkin, que interpretava o “número 1” da BAU, Jason Gideon, e um dos personagens mais queridos dos fãs. A profundidade do golpe ressentiu-se na dificuldade de aceitação do seu substituto, Joe Mantegna (David Rossi), que batalhou bastante mais até ser aceite pelos fãs (ou até à rejeição ser diluída pelos fãs que já foram introduzidos à série a partir da sua presença).

Mas o entra e sai nas cadeiras principais de Criminal Minds piorou exponencialmente foi a partir da 6.ª temporada, dando conta do início do fim do período ótimo da série.

Resumindo isto tipo relato de futebol, a partir da 6.ª temporada a progressão no campo foi a seguinte (o próximo parágrafo pode ser saltado pois a precisão dos termos futebolísticos é nula):

CBS expulsa AJ Cook (JJ) e dá suspensão de meia temporada a Paget Brewster (Emily Prentiss), entra Rachel Nichols (Ashley Seaver) para o lugar de AJ. Paget regressa da suspensão, mas decide abalar para outros campeonatos. Entra Jeanne Tripplehorn (Alex Blake) para o seu lugar. Tripplehorn aguenta-se duas temporadas, mas acaba por abandonar o jogo. O treinador vai buscar Jennifer Love Hewitt (Kate Callahan0), mas devido à gravidez a atriz só fica uma temporada. Mais uma substituição necessária; entra Aisha Tyler (Tara Lewis). Entretanto temos uma lesão por estafamento, Shemar Moore está cansado e decide sair, procura novos clubes. CSI cede Adam Rodriguez por empréstimo. A um mês da 12.ª temporada arrancar e há violência no balneário entre Thomas Gibson (Aaron Hotchner) e um dos fisioterapeutas. O comportamento não é tolerado, Gibson é expulso. O treinador vai à pesca e traz Paget Brewster de volta para tentar tapar o furo no pneu feito por Gibson.

Não queremos falar aqui de todos os casos de entradas, e principalmente, de saídas do elenco de Criminal Minds, mas sim da degradação cancerígena que os anos vão impondo às séries longas:

Desde estúdios a pressionarem “medidas criativas” bruscas, a atores cansados e que anseiam por novos projetos para evoluírem nas suas carreiras, à própria saturação das histórias e das equipas envolvidas. Em suma e no geral: anos a mais nunca são sinónimo de qualidade.

Mais uma vez, e como já discutimos noutros artigos, o poder das audiências brutas volta a pesar mais na balança e volta a deixar que séries boas comecem a padecer por se estenderem por anos a fio, quando poderiam terminar em nota alta, sem que esse cancro lhes levasse também a identidade e as caras que a construíram.

Nota 1: Esta crónica foi escrita por uma pessoa que adora Criminal Minds e que ficaria muito triste com o seu fim, mas que fica ainda mais aborrecida com as constantes alterações de elenco.

Nota 2: Há séries que estão num estágio muito mais avançado de desenvolvimento deste cancro do que Criminal Minds que, apesar de todas as adversidades, consegue manter temporadas interessantíssimas e a história a gerar entusiasmo.

.Mélanie Costa

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