A maldição dos cliffhangers em The Walking Dead
| 09 Abr, 2016

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Este artigo contém SPOILERS

Se viram o final de The Walking Dead esta semana certamente vão perceber a urgência desta crónica. Antes de se avançar para o que é importante, vamos apenas elucidar, para quem não conhece a terminologia, o que é um cliffhanger?

Um cliffhanger constrói-se quando num momento de grande intensidade no final de um episódio há uma quebra que deixa o espectador sem saber o que realmente aconteceu.

Como podem suspeitar, esta técnica cinematográfica não é apreciada por muitos. The Walking Dead é aquela série que gosta de brincar com os seus fãs, na medida em que lidera os cliffhangers mais incomodativos da televisão. Não foi há muito tempo que o momento final de “Thank You” (temporada 6, episódio 3) deixou todos os fãs de queixo caído com aquilo que poderia ser a morte de uma personagem adorada. A loucura nas redes sociais sobre o que realmente tinha acontecido naquele final em aberto levou os produtores a eliminar o nome de Steven Yuen dos créditos iniciais para aguçar ainda mais a curiosidade dos espectadores, forçando-os a acompanharem religiosamente os episódios das semanas seguintes. Aqui, a técnica do cliffhanger foi estrategicamente bemsucedida, muito porque a série, como sabemos, não segue fielmente o seu material de origem, conseguindo manipular o público com uma eficácia ainda maior.

As reações dispararam por todos os lados, o nome Glenn ficou durante semanas a ser divulgado, levando os desistentes a retomar os episódios da série em atraso, a incentivar aqueles que não seguiam a série a dar uma oportunidade e a dar cabo da cabeça de quem já acompanha desde 2009. The Walking Dead é uma série que reconhece as suas fragilidades, mas também sabe explorar de forma impetuosa os benefícios de não seguirem fielmente a banda desenhada. Com isto, o público está automaticamente à mercê das ideias, das intenções, dos pensamentos e da malícia de quem assina o argumento e, para fazer sofrer os mais dedicados, a técnica do cliffhanger torna-se fulcral para manter a fanbase devota até ao fim.

Podemos desdenhar, torcer de revolta, de exprimir o que sentimos, mas a intenção é precisamente essa. Criticamos, esperneamos, esgotamo-nos de raiva, mas em outubro, quando já estiver tudo calmo e tudo com saudades da série, voltamos a estar atentos, voltamos a ver a série nem que seja apenas para saber aquela pequena informação que nos falta porque sem ela não ficamos satisfeitos.

Toda esta conversa da maldição dos cliffhangers que é, para muitos, uma gigantesca dor de cabeça, vem a propósito do final de temporada desta semana, onde durante 15 minutos somos “torturados psicologicamente” pelo vilão Negan (um extraordinariamente maquiavélico Jeffrey Dean Morgan) que escolhe uma vítima entre Rick, Carl, Eugene, Abraham, Maggie, Sasha, Aaron, Rosita, Daryl ou Glenn (segundo a banda desenhada, este último foi o escolhido) para dar uso ao seu bastão de basebol de estimação, Lucille. Quando Negan se decide, o espectador é transportado para um plano de ponto de vista (como se a câmara fosse a própria vítima) e sem nem um “ai nem um ui”, Negan bate com o bastão até que o ecrã fica preto, sem qualquer pista para quem foi atingido. E agora, o público tem que esperar até outubro para saber o resultado.

É cruel e desrespeitoso para os fãs. Durante semanas que teorias se formaram nas redes sociais para quem seria a primeira vítima deste vilão carismático! Será Daryl, será Glenn, será Abraham? O leque de possibilidades está lá, mas a verdade só irá emergir no Outono. Este desrespeito que está a revoltar os fãs é tão grande que torna o final de “Last Day on Earth” numa verdadeira montanha-russa de emoções. Mas, acima de tudo, este cliffhanger tem uma vantagem: evita uma palavra terrível que nos assombra desde que Game of Thrones começou a executar as suas adoradas personagens: os spoilers. Não há comentários do género: “Não me acredito que mataram o X”; “The Walking Dead mata personagem Y” ou “Vou deixar de ver a série porque mataram o fulano!”. Estrategicamente o cliffhanger contribui para que a fandom de The Walking Dead, revoltada ou não, continue a seguir a série e ajuda aqueles que irão sentir este reboliço tardiamente a não terem que “gramar” com comentários desagradáveis e que estraguem o clima de suspense.

Ainda que os cliffhangers sejam incomodativos na série, como uma maldição persistente, perguntem-se a vocês mesmos: vou deixar de ver a série? Não vou querer saber quem é a primeira vítima? Não se deixem enganar porque, seja qual for a resposta, a vossa curiosidade está lá, independentemente do final ter ficado em aberto.

Mas será esta técnica eficaz a longo prazo? Qual é a vossa opinião sobre os cliffhangers?

Jorge Lestre

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