The Wheel of Time regressa com a sua 3.ª temporada e mantém-se na sua trajetória ascendente, oferecendo-nos, de longe, a melhor temporada até à data. Atrevo-me a dizer que não tínhamos uma série de fantasia a este nível desde a 4.ª temporada de Game of Thrones. Pode parecer polémico – sobretudo para quem só viu a 1.ª temporada – mas a verdade é que a série encontrou o seu ritmo na segunda, e nesta terceira apresenta um nível superior. Vamos então explorar o que nos trouxe esta temporada.
A história retoma imediatamente após os eventos da 2.ª temporada: Rand derrota Ishamael, um dos Forsaken, e Egwene é profundamente marcada pelo confronto traumático com os Seanchan. O primeiro episódio é sólido, mas deixou-me algo apreensivo – em apenas 60 minutos condensaram tanta informação que, para quem não leu os livros, tudo pode parecer confuso. Tive receio de que a temporada seguisse a um ritmo demasiado acelerado. Felizmente, a pressa inicial serve para estabilizar o ritmo nos episódios seguintes.
Desde logo, somos brindados com revelações importantes: a existência do Black Ajah, a desordem crescente na Torre, e a surpreendente colaboração entre Lanfear (Natasha O’Keeffe) e Moiraine (Rosamund Pike). Ambas, por razões diferentes, querem proteger Rand e operam em conjunto, ao mesmo tempo que tentam manobrar os restantes Forsaken.
A partir daqui, a história avança a bom ritmo, centrando-se em três grandes núcleos: a perseguição ao Black Ajah, a jornada de Rand até ao Aiel Waste para provar que é o Car’a’carn, e o regresso de Perrin a Two Rivers. Destaco, com entusiasmo, a cena da luta entre Mat, Gawyn e Galad – épica, bem coreografada e há muito aguardada pelos fãs dos livros.
No episódio 4, um dos pontos altos da temporada, assistimos a grandes revelações. Rand passa por um teste crucial, ganhando as marcas de dragão na pele, ao mesmo tempo que descobre o passado dos Aiel – um choque profundo para muitos deles ao perceberem que, em tempos, seguiram o Caminho da Folha, uma filosofia de paz. Temos ainda vislumbres do mundo antes de ser destruído, antes da chegada do Dark One. É aqui que percebemos, pela primeira vez de forma clara, que The Wheel of Time é, na verdade, uma história futurista, passada num futuro longínquo onde a humanidade teve acesso a uma ciência tão avançada que abriu caminho ao One Power. Vemos Lanfear, ainda sob a sua identidade original, como uma cientista brilhante.
A 3.ª temporada de The Wheel of Time não se fica por aqui e continua a entregar momentos marcantes para os fãs. Apesar da mudança de ator, Mat começa finalmente a ganhar espaço. A sua narrativa afasta-se dos livros, especialmente ao ser levado para Tanchico, em vez do percurso esperado. Ainda assim, gerou curiosidade: veríamos a cena do Portal, por exemplo? O confronto entre Liandrin e Nynaeve, e mais tarde entre Rand e Couladin (manipulado por Lanfear), também foram momentos intensos e bem executados.
Quero dar um destaque especial ao episódio 8, Goldeneyes, o meu segundo favorito da temporada. A batalha entre Perrin, os habitantes de Two Rivers, os Trollocs e os Children of the Light é tudo aquilo que se pede numa série de fantasia. Finalmente, a Prime Video está a acertar no tom e escala das batalhas – algo que já se começava a notar em The Rings of Power, e que aqui se concretiza de forma épica.
Por fim, somos deixados com inúmeras perguntas. Moiraine sobreviverá ao confronto com Lanfear? Como lidará com a perda de Siuan? O episódio final mistura política (nos Aiel e na Torre), combates e reviravoltas, entregando um desfecho à altura.
É assim que se faz boa televisão.
Em suma, esta temporada foi incrível. Os atores estão cada vez mais à vontade nos seus papéis, o que se nota na forma como dão vida às personagens. Atrizes como Rosamund Pike e Natasha O’Keeffe não precisam de tempo para brilhar, mas os elementos mais jovens do elenco evoluíram imenso e mostram agora um nível de interpretação muito mais sólido. Tudo aquilo que os fãs adoravam em Game of Thrones – jogos de poder, magia, choques culturais, batalhas intensas – está aqui presente em The Wheel of Time.
Ah, e antes de terminar: o CGI merece um elogio à parte. É certo que o orçamento é grande, mas está a ser bem utilizado. As cenas com o One Power estão visualmente deslumbrantes – cativantes, criativas e com peso narrativo. É bom ver que estão a investir naquilo que realmente importa, assim como a banda sonora, não sei se é só a mim, que faz meio que lembrar a de Game of Thrones, o que faz sentido apelando ao mesmo tipo de sentimento ligado à fantasia.
Espero sinceramente que a série seja renovada por várias temporadas dando continuação aos acontecimentos dos livros. Agora que encontrou o seu ritmo, merece continuar a crescer. Afinal de contas tudo o que se pode pedir de uma série, seja de fantasia ou não, é um bom enredo, e este está interessante e cativante, boas atuações, que atualmente também estão cheios, e que seja coesa. Tudo o resto vem por acréscimo.
Episódio de Destaque:
The Road to the Spear (Episódio 4) – Este é, sem dúvida, o melhor episódio da temporada. Em The Road to the Spear, Rand enfrenta a prova dos pilares de Rhuidean, onde é forçado a ver o mundo pelos olhos dos seus antepassados. O impacto narrativo é imenso: não só Rand cumpre mais uma profecia e reforça a sua identidade como Dragão Renascido, como descobre verdades chocantes sobre o passado dos Aiel. Percebemos que os Aiel seguiam o Caminho da Folha, e assistimos à dolorosa transição que levou à sua transformação em guerreiros. Para além disso, é também aqui que temos vislumbres do mundo antes da sua queda – uma civilização tecnologicamente avançada, onde o One Power foi inicialmente descoberto. É uma revelação que muda por completo a perceção da série: The Wheel of Time não se passa num passado mítico, mas sim num futuro longínquo, o que acrescenta uma camada fascinante à narrativa. Outro ponto forte do episódio é a atuação de Josha Stradowski. Aqui, o ator dá vida a várias gerações de personagens, todas com nuances e personalidades distintas. O seu desempenho é notável. Por fim, não podemos deixar de destacar o visual. Os efeitos, a cinematografia e a forma como os momentos mais emocionais são filmados tornam este episódio uma verdadeira obra de arte dentro da televisão de fantasia.
Melhor Personagem:
Perrin Aybara (Marcus Rutheford) – Aqui foi um pouco mais difícil de decidir, porque tínhamos vários candidatos possíveis, desde Lanfear, Moiraine e Rand logo à cabeça. No entanto, decidi por Perrin, porque foi de facto uma personagem de destaque. Até aqui era o que tinha menos personalidade e passava mais despercebido, mas nesta temporada teve uma boa evolução, particularmente, carregando às costas o episódio 7 que é todo focado nele. O ator fez um trabalho espetacular e passa bem a ideia de honra de Perrin, assim como as suas emoções complicadas entre a violência e a paz.