Brand New Cherry Flavor – 01×01 – I Exist
| 24 Ago, 2021

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[Não contém spoilers]

Para os amantes do terror e do surrealismo chegou à Netflix, Brand New Cherry Flavor, uma minissérie que junta tudo isto num primeiro episódio alucinante e meio confuso que decorre nos bastidores de Hollywood.

Brand New Cherry Flavor é uma história que, infelizmente, retrata aquilo que vamos sabendo que acontece em Hollywood há muitos anos. A nossa protagonista é Lisa Nova que vai até Hollywood para ter uma reunião com um grande produtor chamado Lou Burke. Descobrimos mais tarde que Lou já não consegue um grande êxito desde os anos 80, mas, ainda assim, é um produtor premiado com três estatuetas douradas e com um nome vincado no mundo do cinema o que torna esta reunião a grande oportunidade da carreira de Lisa. Esta por sua vez quer transformar a sua curta-metragem numa longa com a condição de ser ela a realizar. Lou aceita e promete ensinar a Lisa os truques para singrar em Hollywood. No entanto, como devem ter percebido ao ver o episódio, Lou tentou tirar proveitos de Lisa em troca do seu filma coisa que Lisa sempre foi negando até Lou a afastar do seu próprio filme como “castigo” pela recusa. Como tinham assinado um contrato, Lisa vê uma oportunidade de vingança ao conhecer Boro, uma espécie de bruxa que a promete ajudar a vingar-se.

Achei por bem explicar o plot da série porque, em primeiro lugar, é um tema que acho que deve ser sempre falado. O mundo do cinema está repleto de pessoas como Lou e é inevitável, como alguém que estudou cinema, não me rever na raiva que Lisa sente. Não tanto pela parte do assédio na primeira pessoa, que, felizmente, não é algo que tenha passado, mas é algo que já observei de perto e que me revolta bastante. Mas também este roubo de projetos que grandes produtores fazem enganando jovens artistas para depois ficarem com o proveito. Claro que, tal como acontece na série, a culpa acaba por ser de ambas as partes, já que a Lisa assinou o contrato praticamente sem o ler, mas é difícil passar anos e anos à procura de uma oportunidade e não arriscar quando ela nos aparece. Falo por experiência própria! Vi muito de mim na dor e sofrimento de Lisa e talvez isso seja aquilo que mais me emocionou no episódio.

A outra parte que fez a série funcionar para mim foi o surrealismo. É impossível não ver este episódio e não nos lembrarmos de Twin Peaks ou mesmo de qualquer obra de David Lynch. Coisas estranhas acontecem a toda a hora e sinceramente é impossível perceber o porquê apenas com um episódio, mas sabemos que vai haver uma razão. A personagem da bruxa, a Boro, é um arquétipo das personagens misteriosas de Lynch e punha as mãos no fogo em como a criação desta série se inspirou bastante no mestre do surrealismo. A realização é muito boa, mas a direção de fotografia é qualquer coisa de abismal. As imagens parecem pinturas com cores e contrastes fantásticos. Como ponto menos positivo talvez mencione as personagens secundárias. Somos apresentados a Code que é um ex-namorado de Lisa que a deixa pernoitar na sua casa quando esta chega a Hollywood e também à sua namorada que sinceramente é só irritante. Code não é tanto, mas não me cativou. Temos Jules Brandenberg que é o realizador que fica com o lugar de Lisa mas não deu para ver muito dele. Já a namorada de Jules é, talvez, a mais interessante destas personagens pois ela fez uma operação plástica e aparece durante todo o episódio com a cara envolta em ligaduras o que torna engraçado de ver.

Obviamente que recomendo esta série, pois como já disse sou um fã deste tipo de narrativa. Esta crítica a Hollywood junta com um surrealismo e um mistério cativantes são motivos suficientes para dar uma oportunidade a esta nova série. Mas também sou sincero e deixo o aviso que esta série não é para todos. O ritmo lento, as coisas sem sentido e até algumas cenas mais pesadas podem não agradar a toda a gente. Esta é daquelas séries que tens de ver e deixar-te entrar num Universo doido. Usa os primeiros minutos para isso e se mesmo assim não gostares então talvez não seja a série mais indicada para ti. Agora se gostas de cinema mais surreal onde tudo é nada e nada pode ser tudo então esta é a série para ti. Numa frase, diria que é a Mullholland Drive das séries. Atreve-te então a percorrer esta estrada doida.

Carlos Real

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