Este texto pode conter SPOILERS relativos ao novo episódio, datado de 28/10, portanto fica ao critério do leitor se pretende prosseguir.
Há algo que nos tem agarrado às aventuras dos irmãos Winchester durante anos a fio e que ainda continua vivo porque, após 11 temporadas, já poderíamos ter desistido há um bom tempo atrás. A série, criada por Eric Kripke, tem como base as aventuras de dois irmãos que, desde pequenos, tiveram problemas em lidar com forças paranormais e monstros retirados dos nossos pesadelos ou do folclore popular. Sam e Dean Winchester (Jared Padalecki e Jensen Ackles) passaram por muito ao longo de onze temporadas (cada uma com cerca de 22 ou 23 episódios cada) e, embora a sua fórmula de entretenimento se foque num enredo principal mais negro, os argumentistas não resistem a umas paragens ligeiras de puro entretenimento. É estranho como uma série tão extensa ainda consegue manter uma qualidade argumentativa aceitável, mesmo que com alguns deslizes pelo meio.
Em “Baby”, o episódio desta semana, vemos Sam e Dean voltarem ao seu esplendor. Isto quer dizer que após tantos anos, aquelas pequenas particularidades e pormenores das suas vincadas personalidades regressam num episódio magnífico de criatividade televisiva onde o entretenimento se alia a brincadeiras de filmagem que resultam numa hora de pura diversão para o público. Um dos eternos personagens de Supernatural é o Chevrolet Impala de 1967 preto que é uma espécie de “casa” ou de “santuário” para os dois irmãos e que é dono do nome que corresponde ao título do episódio. Dentro das portas deste carro, que é tão estimado, especialmente por Dean, já aconteceram inúmeros eventos: desde demónios aprisionados, a escapadelas amorosas e até a muita destruição.
Portanto, ao longo de 11 temporadas há que dar o mérito a este carro que não só prima pela sua aparência, como tem um valor sentimental inigualável até mesmo para os fãs da série. O episódio “Baby” é inteiramente filmado dentro do Chevrolet como se se tratasse de um personagem presencial e humano; a câmara pode rondar os vários pontos-chave do carro, mas nunca se atreve a sair do seu meio para filmar os protagonistas na sua vida diária de caçadores de monstros. Pelo contrário, a câmara estática é absolutamente cativante assim que observamos o que os dois protagonistas vão fazendo lá fora sem termos de sair dos confortáveis bancos de couro do Impala.
A estima que a equipa nutre pelo Chevrolet ao ponto de o tornar um personagem central na narrativa do episódio leva a um retrocesso no tempo, onde Sam e Dean voltam a ser Sam e Dean fora da sua ocupação e dos seus dramas normais do mundo necessitar de ser salvo por eles (pela 11.ª vez). Um fã de Sobrenatural consegue dizer, ou pelo menos tem na sua mente, que a série começou a decair de qualidade mais ou menos a partir da 5.ª temporada, quando a narrativa estava no seu auge. No entanto, ele também sabe que é demasiado difícil deixar a melhor dupla da televisão e das peculiaridades humanísticas que fazem com que nos apeguemos com cumplicidade aos dois irmãos.
Em “Baby” matamos as saudades de um Dean que vive para comer fast-food, que ouve os clássicos do rock ‘n’ roll dos anos 80 e 90, que não poupa uns piropos às miúdas e que, acima de tudo, revive alguns momentos da sua infância com o irmão; já Sam descontrai um pouco e deixa a sua postura séria e preocupada, aproveitando os escassos prazeres da vida que pode ter devido ao seu conturbado quotidiano. Há aqui uma homenagem extraordinária ao espírito e aos primórdios que forjaram as aventuras dos irmãos Winchester; aliás, até algumas brincadeiras como a inocência do anjo Castiel para com as novas tecnologias, que são daqueles pequenos momentos de ternura e gargalhadas, foram resgatadas.
A equipa da série continua a divertir-se ainda que sinta o pesar do tempo em cima dos ombros, o que mostra que Supernatural não se encontra “adormecido” quanto a proporcionar um verdadeiro serão de televisão de excelência e que, dentro da sua vasta linha de histórias, ainda consegue reciclar e reaproveitar as suas origens. E já que acompanhamos Sam e Dean ir e vir quase que pela Via Verde ao Inferno, é a vez de Baby mostrar o que é ser o carro destes dois indivíduos e, se pudesse falar, Baby teria muito para reclamar.
É com esta nostalgia e sorriso na cara que termino esta crónica, acompanhados pelo som da música Night Moves de Bob Seger e uma lágrima presa no canto do olho depois de uma breve reflexão de que os anos passam e que o significado pessoal de Supernatural permanece o mesmo.
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