Bonusfamiljen – Review da 3.ª Temporada
| 11 Ago, 2019

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Temporada: 3

Número de episódios: 10

Contém spoilers!

Bonusfamiljen, Uma Grande Família, em português, é uma série original Netflix sueca que conta já com três temporadas, mas que parece não esgotar os dramas e problemas familiares por que as suas personagens passam. A série segue uma família “alargada”, se é que se pode chamar assim, tendo como casal principal da história Lisa e Patrick, que são ambos divorciados e têm filhos dos casamentos anteriores, o que leva a que estejam em contacto permanente com os ex-cônjuges.

Depois de uma primeira temporada muito boa, veio uma segunda que não conseguiu igualar o nível da primeira, deixando-me com as expectativas não muito altas para esta terceira, mas devo dizer que, apesar de ter começado um bocado em baixo, a qualidade foi melhorando de episódio para episódio. A série sempre se focou nos problemas familiares e no dia a dia de três famílias, transmitindo-nos retratos reais das mesmas, apesar de, por vezes, serem um pouco exagerados e com algumas personagens bastante irritantes. Uma coisa que nunca fez foi abordar temas mais sensíveis e isso mudou nesta temporada, tendo introduzido os temas da morte, da solidão e do aborto.

No início do primeiro episódio, é-nos logo apresentada a morte de Gugge (morte forçada, porque a atriz que fazia a personagem faleceu), a companheira de Bigge, dando logo um mote mais sério a uma série que sempre tratou os temas abordados de forma leve e com toques de comédia. Esta morte leva a que Bigge, uma senhora já de idade, se veja a viver sozinha no apartamento que partilhava com Gugge, procurando mais do que nunca ter a atenção do filho e dos netos, que, para piorar as coisas, vivem na casa que era dela. As suas tentativas de contacto com e de auxílio ao filho e à companheira dele, que foram pais recentemente, são muitas vezes interpretadas com maus olhos. O casal quer ter a sua privacidade, mas com Gugge constantemente a telefonar e a ir lá a casa, isso não acontece. A mãe de Martin diz que quer apenas aliviar a carga de trabalho que eles têm, mas vê-se claramente que esta se sente sozinha. É apenas quando conhece o patrão do filho, Danny, que as coisas mudam, pois este valoriza-a e dá uma certa dica ao filho dela, permitindo assim que esta volte para a sua casa e se sinta melhor consigo mesma. Gostei bastante da forma como foram abordando os vários estados de espírito da personagem e de como esta ânsia por se sentir útil e ter alguém com quem falar se vai intensificando ao longo da narrativa.

O tema da morte é-nos apresentado pela personagem Ingmar, o pai do Patrick, que recebeu o diagnóstico de cancro. Apesar de não serem nada próximos, o filho fica afetado com a notícia e “obriga” o pai a pedir uma segunda opinião. Há sofrimento por parte do filho e da família, mas a morte não nos é aqui mostrada como algo que cause um sentimento de sofrimento exacerbado, até porque, como já disse, Ingmar e a restante família não eram próximos. Apesar de tudo isto, no final, em conversa com Lisa, Patrick diz que não sente a falta do pai, mas gostava que ele estivesse presente e que conhecesse o filho por nascer do casal. Esta abordagem menos pesada da morte está de acordo com o tom da série, mas ao mesmo tempo é importante que se transmita esta mensagem de que a morte não é o fim de tudo, que a vida continua mesmo depois do falecimento de alguém que nos seja próximo ou querido.

O último tema, que considerei mais importante, foi o tema do aborto, que continua a ser bastante controverso, havendo muitos defensores, assim como pessoas contra. Lisa já tinha engravidado de Patrick pela segunda vez, mas ambos tinham decidido que não era a altura certa para terem mais filhos, por isso decidiram abortar. No entanto, algum tempo depois, ambos decidem que gostavam de ter mais filhos e voltam a tentar engravidar, com sucesso. Patrick e Lisa não estavam era à espera que depois de terem feito um exame para saber se estava tudo bem com o bebé, o resultado fosse que o bebé tinha Síndrome de Down. Depois de receberem a notícia, os dias que se seguem são de muita indecisão, com sentimentos de culpa, etc. Acho muito importante que estas séries ditas mais leves,  e que possam ter talvez mais telespectadores, abordem temas como este, pois ainda é um grande tabu na sociedade e é pouco abordado no mundo das séries e dos filmes. Além desta série, só me estou a lembrar de mais um filme que aborda esta questão, 24 Wochen, de Anne Zohra Berrached, filme este que não é comercial nem foi feito para as massas.

Nesta temporada, Eddie e William estão a entrar na adolescência e houve uma grande mudança na última personagem. William passou a ser um bocadinho irritante, durante alguns episódios, só querendo saber do seu amigo Frans e estando sempre agarrado ao telemóvel, ignorando Henrik, companheiro da mãe e, antes disso, seu amigo. Foi bom chegar aos últimos episódios e ver que a personagem caiu em si e voltou ao que era. Eddie, que era uma personagem que eu não suportava na primeira temporada, teve também os seus dias, mas a adolescência fez com que deixasse de ser tão irritante e passou a ser uma personagem mais suportável.

Os cenários de exteriores escolhidos para as gravações são todos bastante bonitos, passam uma sensação de paz e serenidade de que quem vive nas grandes cidades sentem falta. Mesmo o escritório em que a Katja trabalha e que é o sítio onde parece haver mais stress não denota aquele stress a que estamos habituados, até porque os escritórios são bastante iluminados e com cores mais alegres do que aquelas que associamos normalmente a um escritório. Não estou familiarizada com a cultura sueca, mas conseguiram passar a imagem de um estilo de vida bastante mais saudável e mais calmo do que aquele que vivemos em Portugal (pelo menos, nas grandes cidades). As casas de cada casal, a caracterização das personagens, a maquilhagem, os cabelos e o guarda-roupa são um dos elementos de destaque da série. É uma série “real”, que retrata pessoas “reais” e não uma série histórica do séc. XVIII, mas todos estes elementos são importantíssimos e caracterizam as personagens, tanto a sua personalidade, como o seu estatuto pessoal ou ainda a forma como veem a vida. Tenho a certeza de que se a parte visual não estivesse tão bem delineada, a série perderia alguma da força que tem.

O facto de termos três famílias diferentes interligadas entre si, faz com que tenhamos sempre três pontos de vista diferentes para os mesmos problemas (ou problemas diferentes) e nos consigamos identificar mais com uma do que com outra. Além disso, mostra-nos a diversidade que existe na palavra ”família”. Não há famílias iguais, nem muito menos perfeitas, existem famílias que discutem e se zangam, mas que ao mesmo tempo estão lá sempre uns para os outros quando é preciso. Citando Patrick no episódio 10: “a nossa grande e caótica família”.

A série continua a seguir a mesma receita de sempre, mas consegue deixar-nos colados ao ecrã. Por vezes, as personagens podem tornar-se enervantes, mas mesmo assim não consigo deixar de ver a série. Não é uma série perfeita, longe disso, mas também não é um género que eu esteja habituada a ver. Talvez seja também por isso que me divirto sempre a ver cada um dos episódios da série, é uma quebra na minha rotina seriólica.

Melhor episódio:

Episódio 9 – Os episódios costumam estar quase sempre todos ao mesmo nível, mas gostei do episódio nove, o episódio do batismo de Josef. É um episódio com muitas emoções, em que Gugge se começa a sentir valorizada, Patrick e Lisa têm de lidar com o resultado do exame, William começa a “voltar a si” e as coisas entre Katja e Hendrik voltam ao que eram.

Personagem de destaque:

Danny (Christer Lindarw) – Uma personagem que não é das principais e aparece apenas em alguns episódios, e por pouco tempo, mas que sinto que se destacou mais do que as outras a que já estamos habituados. Danny é o gerente da loja de roupa feminina em que Martin trabalha. Homossexual e com muita classe, é todo ele uma personagem que vem destoar de todas as restantes. Quando se dirige a Bigge pela primeira vez, com o seu charme e graxa de vendedor, ficamos na dúvida se ele só está interessado em conquistar mais uma cliente para a loja, no entanto, vem-se a verificar que as suas preocupações são genuínas.

Cláudia Bilé

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