Golden Globes 2017: Rescaldo
| 10 Jan, 2017

Publicidade

Nada melhor para espicaçar o início de mais um ano no entretenimento do que a cerimónia dos Golden Globes. Este ano, na sua 74.ª ediçao, apresentada pelo comediante Jimmy Fallon, a cerimónia em si pode não ter sido das melhores de sempre (apesar da ÉPICA sequência de abertura), mas certamente marcou, não só pelos vencedores, mas também pelos discursos de aceitação das estrelas galardoadas.

Meryl Streep, que ganhou o prémio carreira Cecil B. DeMille, agradeceu com um forte discurso que tocou na ferida mais recente da América, o seu próprio presidente eleito. Sem nunca sequer mencionar o nome de Donald J. Trump, Meryl Streep proferiu fortes críticas ao comportamento e à “performance” de Trump e, mais do que isso, às consequências que esses comportamentos trazem. “Desrespeito encoraja desrespeito. Violência incita violência. Quando os poderosos usam a sua posição para atacar os outros, todos nós perdemos.” Palavras fortes e profundas que mostram a preocupação que se encontra nos corações de muitos.

Mas políticas à parte, a cerimónia ficou marcada por bastantes momentos hilariantes, desde a apresentação de Kristen Wiig e Steve Carell da categoria de Melhor Filme de Animação, ao beijo entre Ryan Reynolds e Andrew Garfield durante a entrega do prémio a Ryan Gosling, passando pelos momentos cómicos não exagerados de Jimmy Fallon, que se manteve bastante apagado durante a maior parte da noite.

No que toca ao mundo das produções televisivas, aqui fica o nosso balanço do melhor e do pior que revelaram os resultados desta cerimónia:

Já sabemos que, mais que os Emmys, os Golden Globes gostam de acarinhar as novas séries. Já há dois anos, contra fortes concorrentes, deram a vitória de Melhor Drama a The Affair, e este ano já toda a categoria era composta por nomeados estreantes, à excepção de Game of Thrones. A vitória recaiu em The Crown, quase de forma tão inesperada como caiu a coroa nas mãos de Lillibet. Ainda que inesperada, e ainda que uma parte de nós gostasse de ver o fantástico mundo de mistério que é Westworld ganhar a categoria, não podemos deixar de achar a vitória de The Crown completamente justa e merecida. Na verdade, todos os nomeados seriam bons vencedores, o que denota as grandes produções que pudemos apreciar este ano. A série histórica da Netflix é, sem sombra de dúvidas, uma obra de arte. E relativamente ao segundo globo que The Crown colecionou, o de Melhor Atriz em Drama, esse ninguém lho pode questionar. Claire Foy interpretou a princesa e depois rainha Elizabeth II de forma sentida, realista e, à falta de melhores adjetivos, impressionante.

Nas categorias de minisséries, as nossas opiniões dividem-se muito entre a justiça das vitórias de The Night Manager e The People v. O.J. Simpson. Ainda que ambas sejam excelentes peças, em termos de performances a antologia de estreia de American Crime Story foi das mais bem feitas em toda a televisão esta temporada e, ainda que a série em si e Sarah Paulson tenham saído de globo no bolso, ficamos com a sensação que noutras categorias merecia mais do que os efetivos vencedores.

Mas aquela que foi provavelmente a maior revelação da noite foi a vitória de Atlanta numa categoria de Comédia que não tinha concorrência fácil, com pesos pesados como as já várias vezes galardoadas Transparent, Mozart in The Jungle e Veep. Ainda assim, na sua humildade, Atlanta sagrou-se vencedora de dois globos. Se pela tendência que os Golden Globes têm pelo que é novo ou por realmente merecer mais que as veteranas com que partilhava a nomeação, deixamos à consideração alheia.

Olhando na vertical, há duas curiosidades que se marcaram quase como tendência geral no que diz respeito aos vencedores. A primeira é a quantidade de prémios atribuídos a atores e produções britânicas. Claire Foy, Tom Hiddleston, Hugh Laurie, Olivia Colman conquistaram a Hollywood Foreign Press Association e deixaram pouco espaço aos talentos da casa.

A segunda é a vitória, quase exclusiva, de atrizes com mais de 40 anos. Num mundo em que a jovialidade é colocada em pedestais de ouro e em que a idade é muitas vezes vista com desprezo, especialmente no que diz respeito ao sexo feminino, alegrou-nos esta tendência. Na verdade, Emma Stone (28 anos) foi a única mulher abaixo dos 30 a sair galardoada. Claire Foy (32) também foi das mais novas. Sarah Paulson (42), Olivia Colman (42), Tracee Ellis Ross (44), Viola Davis (51) e Isabelle Huppert (63), todas acima dos 40, foram as restantes mulheres a levar troféus para casa.

Uma coisa que também louvamos é a distribuição que se verificou nos vencedores das categorias de TV: Os 11 prémios distribuíram-se por seis séries diferentes, sendo que o máximo de prémios para a mesma série foi de três, no caso de The Night Manager. Ainda que o ano passado a distribuição tenha sido maior (foram 9 os títulos diferentes pelos quais se distribuíram os prémios), não estamos muito mal. Se compararmos com as categorias de cinema, La La Land arrasou com tudo, levando 7 das 14 estatuetas para casa, encobrindo tudo e todos. Até mesmo os vencedores das categorias que deixou de fora (só porque não podia ser nomeada para elas por princípio, provavelmente) acabaram por ficar “apagados” perante o brilho que La La Land obteve nos Globos.

Mais apagada ainda ficou a HBO. A noite não foi positiva para o canal, que saiu de mãos a abanar. A última vez que nenhuma produção da HBO ganhou numa cerimónia dos Golden Globes foi exatamente há 10 anos atrás, na edição de 2007. Ainda que com imensas nomeações este ano, de grandes fenómenos mundiais como Westworld e Game of Thrones, nenhuma delas se transformou em vitória.

Daqui concluímos, não a falta de mérito da HBO e das suas produções, mas sim o mérito da maior e melhor concorrência que se tem gerado no mercado televisivo e de streaming. Enquanto que durante muito tempo a HBO dominou as grandes produções “dignas” de prémios, agora cada vez mais outros competidores se lhe juntam, como o FX, a AMC e as plataformas de streaming das quais a Netflix e a Amazon reinam nas produções originais de qualidade.

Numa nota mais negativa, apenas ficámos com pena que os meninos de Stranger Things não tenham tido a oportunidade de ir brilhar para o palco. Mas no que diz respeito à passadeira vermelha, foram os vencedores!

 

Mélanie Costa,
com contribuição de Jorge Lestre.

Publicidade

Populares

billy the kid Tom Blyth

Recomendamos